editorial do Estadão
O governo Dilma Rousseff bateu mais um recorde. Em 2015, o peso das
despesas com o pagamento dos servidores públicos federais foi o maior em
17 anos. Segundo dados do Ministério do Planejamento, o governo gastou
39,2% de suas receitas com a folha de pagamento do funcionalismo
federal. Ainda que o porcentual não ultrapasse os limites legais – desde
o ano 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal determina que o governo só
possa gastar até 50% de suas receitas correntes líquidas com a folha de
pagamento –, trata-se de mais um dado a confirmar a triste situação das
finanças públicas do governo federal.
Na série histórica sobre a relação entre despesas com pessoal e
receitas, o maior porcentual foi verificado em 1995, quando 54,5% das
receitas eram usadas com gastos de pessoal. Depois, o menor nível
ocorreu em 2005, quando 27,3% das receitas foram usadas para pagar
funcionários públicos.
De acordo com o Ministério do Planejamento, até novembro de 2015 o
governo federal tinha nos Três Poderes 2,19 milhões de pessoas em sua
folha. Desse total, 55,3% estão na ativa, 26% são aposentados e 18,7%,
pensionistas. O total da folha de pagamento em 2015 foi de R$ 255,3
bilhões, dos quais R$ 151,7 bilhões foram destinados ao pagamento de
salários, R$ 66,2 bilhões a aposentadorias e R$ 37,3 bilhões a pensões.
O aumento do peso econômico do funcionalismo para o País pode também ser
observado na proporção entre despesas com a folha e o Produto Interno
Bruto (PIB). Em 2015, o gasto com o funcionalismo representou 5,3% do
PIB. Trata-se do pior resultado desde 1995.
Em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, as despesas
com o funcionalismo representaram 5% do PIB. Em 2010, último ano do
governo Luiz Inácio Lula da Silva, o porcentual ficou em 4,7%. No
primeiro ano de governo Dilma Rousseff, o porcentual caiu para 4,5%.
Depois, durante os três anos seguintes, ficou em 4,3%.
A curto e médio prazos o problema tende a agravar-se, seja pela recessão
econômica – que diminui a arrecadação do governo –, seja pelos acordos
firmados em 2015. No ano passado, cerca de 90% dos servidores do
Executivo chegaram a um acordo com o governo de reajuste salarial. A
maioria assinou acordos com vigência de dois anos e reajuste de 10,8% em
duas parcelas. Já as carreiras de Estado optaram por acordos de quatro
anos, com reajuste de 27,9%. Segundo o Ministério do Planejamento, os
acordos firmados em 2015 terão um impacto de R$ 4,23 bilhões neste ano,
R$ 19,23 bilhões em 2017, R$ 17,91 bilhões em 2018 e R$ 23,48 bilhões em
2019.
Ao invés de aproveitar a crise para diminuir os gastos com o
funcionalismo, o setor público continua contratando. Segundo o
Ministério do Trabalho, em março, por exemplo, foram abertas 4.335 vagas
formais na administração pública. O total de contratações no setor
público no primeiro trimestre é de 13.489. Se o arrocho do setor privado
é forte – nos primeiros três meses de 2016 foram 319 mil vagas a menos
–, a área pública parece esquecer a forte crise fiscal pela qual
atravessa o País.
Essa atitude é bem diferente da que se observou na Europa após a crise
econômica de 2008. Segundo a Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), todos os países da União Europeia
reduziram o tamanho do funcionalismo público entre 2008 e 2013, exceto a
Suécia. Outro estudo, da entidade Initiative for Policy Dialogue,
com sede na Universidade de Columbia (EUA), revelou que, desde 2010,
quase cem governos reduziram o valor gasto com o funcionalismo.
Diante da gravidade da atual crise econômica – segundo o IBGE, o Brasil
tem hoje 11 milhões de desempregados – o setor público não pode fechar
os olhos à realidade. Além das nefastas consequências para o equilíbrio
fiscal, novas contratações no setor público representam uma situação de
privilégio, como se o Estado fosse um mundo à parte.
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