Aécio Neves: Folha de São Paulo
Talvez nunca tenha havido um quadro de tamanha deterioração dos princípios de governança, como o que vive o país atualmente.
Não bastassem os escândalos em série que nos pautam todos os dias; o
impasse político que deriva de um governo desacreditado e incapaz; o
descalabro administrativo e o desastre econômico gestados pela
incompetência e arrogância, a presidente Dilma Rousseff caminha para
encerrar prematuramente o seu segundo mandato tomada por rara
irresponsabilidade pública.
Ninguém mais desconhece a dimensão e a gravidade dos problemas que
assolam o Brasil. O país está mergulhado em recessão profunda, taxas de
desemprego recorde, famílias endividadas e crise social aguda.
As contas públicas arruinadas atingem a credibilidade do país. Nos
aproximamos do risco de insolvência, se não houver contenção imediata e
firme do autêntico dominó de malfeitos que fez sucumbir a mais
promissora das economias entre nações emergentes.
Frustraram-se, mais uma vez, os que guardavam alguma esperança de que,
nesta reta final, o governismo pudesse oferecer aos brasileiros a
generosidade que jamais demonstrou ter até aqui e agisse pensando
primeiro no país que aderna e não exclusivamente nas desesperadas
tentativas de sobrevivência no poder. Ou recuasse do passo seguinte, de
impor dificuldades e constrangimentos ao seu sucessor legal.
Ledo engano. O que se vê é a primeira mandatária decidindo, às vésperas
do seu provável afastamento, uma série de medidas que não encontra
lastro possível nos combalidos cofres públicos. Ou seja, até o último
momento, prevalece a miopia do ganho político a qualquer preço.
O impeachment é nesse momento a saída constitucional que se impõe a um
governo que, por seus próprios erros e ilegalidades cometidas, perdeu a
autoridade para nos tirar da imensa crise na qual ele nos mergulhou.
O discurso recente da austeridade e da responsabilidade para debelar a crise mostra-se agora mais falso do que nunca e se desmancha com o retorno sem constrangimentos da velha máxima: "Entre o PT e o Brasil, ficamos com o PT", não importando as consequências perversas que algumas dessas medidas deúltima hora poderão trazer ao país.
Se o mandato da presidente Dilma Rousseff caminha para o seu fim, os
brasileiros, e em especial aqueles que a ela deram seu voto, mereceriam
neste instante grave da vida nacional gestos de grandeza que faltaram em
outros momentos, como, por exemplo, em se confirmando seu afastamento,
uma transição digna e republicana, onde os interesses do país, ao menos
desta vez, ficassem em primeiro lugar.
A história saberá registrar.
extraídaderota2014blogspot
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