por Guilherme Fiuza O Globo
Deu no “The Piauí Herald”: após a prisão do traficante El Chapo,
manifestantes pedem a Sean Penn que entreviste Lula. Seria de fato uma
providência oportuna — considerando-se as dificuldades encontradas pelas
instituições convencionais para livrar o país de um governo criminoso.
Vai uma dica para o astro de Hollywood e herói dos picaretas
terceiro-mundistas iniciar a entrevista com Lula: “Venerável presidente,
me fale da sua gratidão ao grande Nestor Cerveró”.
Segundo Cerveró, Lula o indicou para a diretoria da BR Distribuidora em
2008 “por reconhecimento”. É o tipo de solidariedade que comove Sean
Penn e toda a esquerda festiva planetária. Vamos explicar esse gesto
nobre àqueles que não estão familiarizados com uma certa Operação
Lava-Jato (essa denunciada por um manifesto dos advogados dos honoráveis
bandidos): como diretor internacional da Petrobras protegido pelo PT,
Cerveró fechou um contrato de R$ 1,3 bilhão com o Grupo Schahin para
operar um navio-sonda — operação que rendeu um pixuleco de R$ 12 milhões
adivinhe para quem, Sean Penn? Acertou, seu danado: para o PT, como
confirmou o dono do Schahin em delação premiada.
O intermediário dessa operação progressista foi o companheiro Bumlai,
que também vale uma bela entrevista — no caso, já sendo feita pelos
investigadores golpistas que o prenderam. José Carlos Bumlai é o amigo
de Lula que tinha escritório com os filhos de Lula e aparece como
facilitador das montagens e reformas das propriedades de Lula que não
são de Lula. São dinheiros que vêm de empreiteiras e se aninham sob a
titularidade de laranjas — porque socialista que é socialista não tem
nada de valor em seu nome, companheiro Sean Penn.
Bumlai foi aquele que montou reunião sobre o navio-sonda com Lula, por
indicação do lobista do petrolão Fernando Baiano, e passou a reunião
toda vendo um livro do Corinthians. Os R$ 12 milhões do pixuleco petista
vieram através de um empréstimo falso a Bumlai (a consagrada tecnologia
do mensalão), que depois fingiu que pagou em sêmen de boi fictício. É
um enredo eletrizante — e esse boi imaginário também renderia uma bela
entrevista. Não se sabe exatamente quanto desses R$ 12 milhões foi para a
campanha de Lula em 2006 e quanto foi usado para acalmar um chantagista
do caso Celso Daniel, mas isso é questão de foro íntimo. Perguntando
com jeitinho, Sean Penn, quem sabe o Lula te conta.
Cerveró, coitado, está lá tendo que decidir o que diz e o que desdiz.
Tudo depende, claro, do futuro que lhe for oferecido pelos amigos de fé.
O líder do governo Dilma no Senado foi direto para a cadeia depois de
oferecer ao companheiro Nestor um futuro arriscado. É muita falta de
sensibilidade mesmo oferecer uma vida de fugitivo a um homem que tem a
gratidão de Luiz Inácio da Silva. Essa gente parece que bebe.
Felizmente, o Brasil é uma mãe gentil: pela primeira vez na história, um
senador com mandato é preso — sendo que esse senador, que estava
negociando com a máfia do petrolão, era apenas e tão somente o líder do
governo Dilma. Vários comentaristas e analistas continuam se referindo a
Delcídio Amaral como ex-líder do PT — mostrando que brasileiro anistia
até sem querer. O companheiro Delcídio não liderava Rui Falcão e
companhia, caros colegas: liderava o Palácio do Planalto e a companheira
presidenta — inclusive nas tratativas com os assaltantes da Petrobras.
Nada disso é suficiente para o Brasil providenciar o impeachment. Só
você mesmo, Sean Penn. Mas, pelo amor de Deus, não mostre a sua
reportagem sobre o reinado de Lula ao companheiro El Chapo. Ele teria
uma violenta crise de autoestima.
Se o ex-marido de Madonna fosse só ex-marido de Madonna, nem valeria
citá-lo. Mas Sean Penn é um ator extraordinário, um artista realmente
importante. Entre outras ações impressionantes, usou essa importância
para apoiar Hugo Chávez e a ascensão de Maduro — que ameaça transformar a
ditadura branca do chavismo em ditadura assumida, com um golpe no
Congresso. Aliás, essencial para isso tem sido a Suprema Corte
venezuelana, que virou arma palaciana para atropelar o Poder
Legislativo. Sim, você já viu esse filme — num cinema bem pertinho de
você.
Esse negócio de usar o prestígio artístico ou intelectual para defender
governos devastadores como o da Venezuela e o do Brasil, por alguma
razão obscura, ainda não foi desmascarado. A lenda do coitado continua
rendendo dividendos seguros no mercado da notoriedade, ainda que esses
gestos solidários sejam tão genuínos quanto o sêmen do boi de Bumlai.
Essa lenda vagabunda é hoje, por incrível que pareça, o principal
sustentáculo do governo delinquente de Dilma Rousseff. E segue o baile:
Lula contrata Nilo Batista, para ter a defesa de um advogado de
esquerda. O filão é inesgotável.
Enquanto isso, Dilma quase triplica a verba do fundo partidário,
aproximando-a do bilhão de reais — em plena e grave recessão. Eles
continuarão comprando tudo e todos com o seu dinheiro, na sua cara. A
não ser que você comece a vender um pouco mais caro a sua tolerância.
extraídaderota2014blogspot
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