editorial da Folha de São Paulo
Pela primeira vez na nossa história, o Executivo enviou ao Congresso uma
proposta de Orçamento na qual projeta para o ano seguinte receitas
menores do que as despesas. Em outras palavras, o governo admite sua
incapacidade de controlar as próprias contas.
Se há algo de positivo nesse desastre contábil é que o Planalto deixou
para trás expedientes com os quais buscava maquiar o saldo negativo. Nem
por isso se deve imaginar que o governo Dilma Rousseff (PT)
experimentou súbita conversão às virtudes da transparência. O que houve
foi pura capitulação.
Há um mês, a equipe econômica contava com meta positiva de R$ 34 bilhões
em 2016. Agora, precisa se resignar com um deficit primário (saldo de
receitas e despesas antes do pagamento de juros) calculado em R$ 30,5
bilhões.
Como pode ter havido frustração dessa magnitude em tão pouco tempo? Não
há explicação para a diferença de R$ 64,5 bilhões a não ser o completo
alheamento do governo quanto às consequências da gestão temerária que
praticou nos últimos anos.
Os impactos dessa nova bomba serão graves. Para começar, o deficit
projetado jogou por terra qualquer tênue esperança de que a austeridade
pudesse prevalecer. A dívida pública, por isso, adquire comportamento
explosivo: deve passar dos atuais 66% do PIB para 72% no ano que vem.
Assim, torna-se quase certa a perda do selo de bom pagador concedido
pelas agências de classificação de risco. Na prática, o mercado já
antecipa o quadro. As taxas de juros dispararam e o dólar atingiu novos
picos, solapando o pouco que restava de confiança entre os agentes
econômicos.
O Banco Central assiste ao colapso geral quase como coadjuvante,
restando o consolo de o Brasil dispor de elevadas reservas
internacionais. Estas, no entanto, têm escassa serventia para manter a
credibilidade do país quando o problema é doméstico, como hoje. Recessão
e desemprego surgem como desdobramentos automáticos.
Desnudou-se definitivamente, ademais, que não há ajuste possível sem
enfrentar as regras que impõem um crescimento vegetativo das despesas
obrigatórias, que representam 90% do Orçamento.
São necessárias reformas duras, como a da Previdência, e um esforço
sério para mudar as práticas administrativas perdulárias. Só a partir
daí será possível discutir mais impostos para fechar as contas.
A falência do governo está declarada sem meias palavras; terá de ser
confrontada pelo sistema político e pela sociedade. A presidente Dilma
Rousseff, porém, demonstra não ter diagnóstico claro do problema e muito
menos sugestão de tratamento para resolvê-lo.
Incapaz de oferecer solução, pensa que pode se desvencilhar do aperto
transferindo ao Congresso uma responsabilidade que é sua –no que erra
mais uma vez.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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