por Bernardo Mello Franco FOLHA DE SÃO PAULO
Um ex-ministro de Dilma Rousseff costuma chamar seu governo de
Organizações Tabajara. Assim como a empresa fictícia do "Casseta &
Planeta", diz ele, o Planalto está sempre bolando alguma ideia
mirabolante fadada ao fracasso.
A ressurreição da CPMF foi o novo produto dessa fábrica de trapalhadas.
Ao propor o retorno de um novo imposto, o governo voltou a irritar a
classe média e, ao mesmo tempo, afugentou empresários que se aventuravam
a defender a presidente.
Na política, as reações também foram desastrosas. A oposição reforçou o
discurso de que a sociedade paga a conta da crise, e o petismo se
recolheu em silêncio envergonhado. O vice Michel Temer, cortejado por
conspiradores, ganhou motivo para se afastar ainda mais de Dilma.
O tiro no pé poderia ter sido evitado com uma simples avaliação do
cenário. Se a CPMF foi derrubada em 2007, quando Lula batia recordes de
popularidade, a chance de aprová-la agora seria próxima de zero. Por que
gerar tumulto com uma ideia que jamais sairia do papel?
Nunca antes um governo espalhou tantas cascas de banana na calçada em
que pisa. No início da semana, Dilma já havia transformado uma boa
notícia em armadilha ao anunciar os cortes na Esplanada. Como ela não
informou os alvos da navalha, criou-se um novo terremoto na base aliada.
Partidos que se estapeavam por cargos de segundo escalão agora estão em
pânico com a ameaça de perder ministérios.
Na sexta-feira, um ministro petista lamentava a sucessão de trombadas:
"Estávamos saindo da mira, mas terminamos a semana com todos os canhões
apontados para nós".
Na noite de sábado, o governo se rendeu ao óbvio e desistiu da ideia
funesta de retomar a CPMF. Mesmo assim, Dilma será criticada pelo recuo.
Sua política econômica voltou à roleta do improviso, e o buraco nas
contas públicas continua aberto. As Organizações Tabajara não fariam
pior.
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