por Hélio Schwartsman FOLHA DE SÃO PAULO
Como esperado, a adesão dos jovens profissionais aos programas de
residência em medicina da família tem sido baixa. Apenas uma de cada
quatro vagas disponíveis vem sendo preenchida.
Não dá para culpar a garotada. Se eu fosse um recém-formado,
dificilmente escolheria essa área de especialização. O médico de
família, afinal, tende a ganhar menos do que o de outras especialidades,
fica com a oferta de empregos muito restrita ao setor público e ainda
atua num campo visto como intelectualmente menos estimulante do que a
cardiologia ou a neurologia, por exemplo.
Não é que a ideia dos sanitaristas de criar uma eficiente rede de
atenção primária à saúde seja destrambelhada. Um sistema universal como
pretende ser o SUS precisa mesmo seguir uma hierarquia na qual o
generalista atua antes do especialista, o que exige muito mais
profissionais do primeiro tipo do que do segundo.
O problema é que, num país capitalista e livre como é o Brasil, o
caminho para expandir a rede de atenção primária passa menos pelas
canetas dos ministros e mais por mecanismos de mercado. O governo é o
maior empregador de médicos do país, o que lhe dá excelente poder de
barganha. Se entende que há carência de generalistas, deve fazer com que
ela se reflita nos preços relativos, pagando mais a médicos de família
do que aos de outras especialidades.
Apenas criar vagas em medicina da família e depois obrigar os residentes
de praticamente todas as especialidades a estagiar por um ou dois anos
em atenção primária –o que ocorrerá a partir de 2019–, além de
autoritário, traz efeitos colaterais. Formar médicos já é absurdamente
demorado. São seis anos de graduação e pelo menos dois de
especialização, que podem chegar a cinco, dependendo da área escolhida.
Alongar ainda mais esse período só faz sentido se a meta do governo for
explorar a mão de obra barata do residente. Pode até funcionar, mas é
feio.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
0 comments:
Postar um comentário