Opinião Valentina de Botas:
A tragédia exige um acontecimento que perpetre a narrativa: Medeia teve de se ver abandonada por Jasão que a trocou por uma mulher mais jovem, era imperioso que Édipo matasse o pai, a Antígona só restava desafiar o tio rei para dedicar os cuidados fúnebres ao cadáver de Polinices e tal. Sem essas ações, Eurípedes e Sófocles não teriam sido, não haveria essas narrativas maravilhosas e seríamos uma espécie ainda mais tristonha naquilo que temos de tristonho.
Estender o saneamento básico a 100% dos lares brasileiros talvez fosse uma grande conquista que buscaria vastas porções do país lá na idade média, época conhecida por delações premiadas na fala trágica de Dilma. Saudar a erradicação da prostituição infantil, quem sabe? A modernização da infraestrutura, já pensou? A amputação de metade dos ministérios, que tal? Já sei: em benefício da decência e eficiência, o corte dos gastos do governo com sua máquina mortífera e aparelhada. Mas essas ações requerem que a presidente, diante da tragédia fundada pela dinastia que integra, tivesse a coragem natural aos governantes honestos de reconhecer o sofrimento do país.
Ela prefere saudar a mandioca; declarar que não respeita delator (aquele cujos milhões ela respeitava até outro dia) esquecendo-se de que a diferença que isso faz para a lei é exatamente nenhuma; misturar os delatores a traidores como Joaquim Silvério dos Reis, a figura detestável que adiou a Independência, ao passo que a delação de Ricardo Pessoa pode antecipar o colapso do regime que agrilhoou a política brasileira ao gangsterismo; banalizar o excruciante episódio da prisão e da tortura sob a ditadura militar ao trazê-lo para o cenário de bandidos comuns e vulgares da república do pixuleco.
Nessa antessala da demência em que se esconde da verdade para esfregar na nossa cara que a mandioca merece mais respeito do que a nação, a presidente parva que não é boba expõe a ausência de sofrimento moral na leveza insustentável com que recita a saudação à mandioca e exila na idade média o estado democrático de direito. Com ações patéticas para salvar a si mesma e o regime agonizante em meio à tragédia que o caráter pequeno ordena que ignore, a figura inútil comprova: passou da hora de a presidente insensível ao país saudá-lo com a renúncia.
EXTRAÍDADOBLOGDEAUGUSTONUNESDIRETOAOPONTOVEJA
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