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22:26
ANDRADEJRJOR
Merval Pereira o GLOBO
À
medida que o processo de impeachment da presidente Dilma se torna uma
possibilidade concreta, embora ainda não inevitável, surgem teorias
conspiratórias de todos os jeitos, algumas folclóricas como a tese do
líder do PT Sibá Machado de que é a CIA que está por atrás das
manifestações de rua contra o governo, outras menos sofisticadas que
atribuem um cunho golpista a uma medida constitucional que já foi usada
no Brasil sob a liderança do próprio PT.
Mas
a mais interessante é a que indica ser o ex-presidente Lula o principal
interessado no momento no impeachment de sua criatura. O ex-presidente
estaria preocupado, e com razão, com os efeitos deletérios em sua imagem
provocados pela má gestão da presidente Dilma aliada aos escândalos de
corrupção na Petrobras, que não param de levar para o ralo a história do
PT.
Não
foi à toa que o presidente do partido Rui Falcão só aquiesceu em tirar
João Vaccari Neto da tesouraria do PT depois de conversar com o
ex-presidente Lula. Mesmo que a decisão tenha sido tomada tardiamente,
quando Vaccari já estava preso pela Polícia Federal, de qualquer maneira
o partido livrou-se da ligação oficial com o segundo tesoureiro preso.
Esdrúxula
mesmo foi a posição do ministro da Defesa Jacques Wagner, que
considerou que Vaccari poderia continuar no cargo mesmo detido. Mas essa
posição tinha guarida em boa parte do partido, seja por proteção a um
militante petista de muitos anos, seja por receio de que ele possa
revelar algum segredo.
O
pragmatismo do ex-presidente Lula sempre indicou, porém, que há um
limite para o apoio a um companheiro apanhado com a boca na botija: a
retórica continua a mesma, mas a distância é recomendável. Se aconteceu
assim com José Dirceu, por que não aconteceria com Vaccari?
Pois
bem, o ex-presidente Lula estaria interessado em estancar a sangria
petista, que o leva junto, com a interrupção do mandato da presidente
Dilma, seja pela renúncia da própria, seja pelo impedimento determinado
pelo Senado.
Uma
indicação disso seria o relatório do ministro do TCU José Mucio, que
caracterizou como crime de responsabilidade as chamadas “pedaladas
fiscais” da equipe econômica do primeiro mandato, chefiada por Guido
Mantega, mas sabidamente comandada pela própria presidente.
O
ex-deputado José Múcio é muito ligado a Lula, e não tomaria uma decisão
tão importante quanto essa sem que correspondesse aos interesses do
ex-presidente, dizem esses maldosos teóricos da conspiração. Caso o
desfecho se dê pela quebra da Lei de Responsabilidade Fiscal, e não por
corrupção, seria mais fácil para o PT ir para a oposição ao futuro
governo de Michel Temer e fazer a chamada luta política criticando todas
as medidas que qualquer governo, seja de direita, de esquerda ou de
centro, terá que tomar para colocar novamente nos trilhos a economia
nacional.
Da
mesma maneira, o êxito dessa tarefa hercúlea provavelmente só será
sentido ao final deste mandato, e dificilmente servirá para resgatar a
popularidade de quem estiver no comando do governo. Ainda mais se o PT,
livre da obrigação de adotar medidas amargas e impopulares, voltar ao
velho populismo se sempre, acusando o governo da vez de estar fazendo
maldades desnecessárias.
Lula
voltaria a fazer o que realmente sabe: criticar o governo da vez e
prometer benesses à população. Por isso, há na oposição quem ache que o
melhor seria permanecer na crítica ao governo, apertando o cerco com a
ameaça de impeachment, mas não concretizá-lo, para que o PT tenha que
assumir até o final do mandato o ônus de tomar as medidas impopulares
que o populismo dos últimos anos exige para que a economia volte a
crescer.
Seria
a teoria do deixar o PT sangrar em público, que deu errado em 2006, mas
reciclada, pois desta vez o PT no governo terá que resolver os estragos
que fez no primeiro mandato, enquanto no governo Lula a economia estava
em boa situação e ajudou a salvá-lo.
Ou, quem pariu Mateus que o embale.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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