Opinião José Casado: O GLOBO
O colarinho branco realçava o tom borgonha da
gravata, sob barba e cabelos grisalhos aparados com esmero. Paulo
Roberto Costa nem parecia um ex-diretor da Petrobras com algema
eletrônica no tornozelo.
Escoltado por um agente federal de colete à
prova de balas e armado com fuzil, falou por horas na Procuradoria da
República, no Centro do Rio. A rua abaixo fervilhava no calor da
quarta-feira pré-carnaval, 11 de fevereiro.
— Vocês obviamente têm um papel aqui, mas não
se limitem à Petrobras — incitou os procuradores. — Não se limitem,
não. O que acontece na Petrobras, acontece no Brasil.
Prosseguiu:
— Essas empresas do cartel não trabalham só
para a Petrobras. Trabalham para portos, aeroportos, ferrovias e
rodovias. Então, o interesse deles é tudo, não é só na Petrobras. Eu
falei no primeiro dia, lá na força-tarefa, antes de assinar o acordo de
delação, que a minha área era só a ponta do iceberg. Agora teve lá uma
declaração do Ricardo Pessoa (acionista da UTC/Constran), e ele
confirma. Falei também, com clareza, lá na CPMI (no Congresso): “Não
pensem que esse assunto se restringe à Petrobras, porque não é!”
Exemplificou recordando seus encontros em Brasília para tratar da harmonia de interesses político-empresariais:
— Normalmente, o Aníbal Gomes (deputado
federal do PMDB) pedia a reunião. Era uma por mês, com o Romero Jucá e o
Renan Calheiros (senadores do PMDB). Eu ia lá na casa do Renan e falava
das perspectivas, de projetos. Qual era o interesse desses políticos? É
que as empresas do cartel ganhassem, porque se elas ganhassem revertia
uma parte pra eles.
Nas últimas duas semanas, o juiz Sérgio Moro
indicou no processo o acúmulo de evidências de que “o esquema criminoso
vai muito além da Petrobras”. Repetiu-se nos autos: “A mesma
cartelização das grandes empreiteiras, com a manipulação de licitações,
ocorreria no país inteiro”. Insistiu, ao autorizar a prisão — com uso de
algemas — de um acionista da Galvão Engenharia: “Há indícios veementes
de que os crimes transcendem a prática de cartel, corrupção e lavagem em
obras da Petrobras.”
Num despacho da semana passada, o juiz
mostrou-se inquieto com os dados já obtidos sobre o fluxo de propinas no
circuito fora da Petrobras. Essa nova etapa da investigação partiu de
“uma tabela” de “comissões” montada pelo operador financeiro do Partido
Progressista, Alberto Youssef, sobre 750 empreendimentos de empresas
estatais e órgãos governamentais. Esse mapa da propina “é perturbador”,
qualificou Moro.
A tendência, indicou, é a exposição pública
de uma sequência de crimes político-empresariais em “dimensão ainda
muito superior aos danos já provocados à Petrobras”. Multiplicam-se
“registros documentais”, exemplificou, “como os depósitos bancários
apreendidos no escritório de Youssef em favor de um senador”. Assim como
há “prova documental do repasse de parte da ‘propina’ em doações
eleitorais ao Partido dos Trabalhadores”.
O juiz Sérgio Moro e o réu confesso Paulo
Roberto Costa coincidem na essência: não existe propina grátis. A conta
desses subornos é paga pelos cofres públicos, com dinheiro subtraído do
bolso de cada brasileiro.
EXTRAÍDADOBLOGDEAUGUSTONUNESDIRETOAOPONTOVEJA
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