por Arthur Virgílio Neto O GLOBO
Raúl Castro foi aplaudido na Cúpula das Américas ao fazer um discurso digno de 1950, falando como se não dirigisse uma das mais longevas ditaduras do mundo
Estive no Panamá e assisti com atenção à Cúpula das Américas. Ficou
claro que a América Latina vive uma dicotomia entre o populismo e a
liberdade. Lamentavelmente, nos últimos anos, vimos o continente ser
varrido por uma onda populista que mostra seus sinais de desgaste. No
Brasil, na contramão, o governo insiste em dar sinais de autoritarismo e
irresponsabilidade que a sociedade demonstra repudiar.
Dilma terceirizou a economia e a política. Da diplomacia, infelizmente,
ela não abriu mão. Continua abraçada a vizinhos de visão política
autoritária e prática econômica retrógrada e de costas à maior economia
do continente.
Na Cúpula das Américas, o atraso foi a estrela. Raúl Castro foi
aplaudido ao fazer um discurso digno de 1950, falando de liberdade como
se não dirigisse uma das mais longevas ditaduras do mundo.
Cristina Kirchner jogou a culpa do seu fracasso nos Estados Unidos.
Criticou os “terríveis ditadores” que a Argentina já teve e citou
respeitosamente Perón, espécie de El Cid da confusão ideológica que
resume a raiz política da atual presidente.
Nicolás Maduro falou sem ser cobrado pelos atentados seguidos à
democracia e à liberdade de imprensa. Discursou como se fosse um gestor
vitorioso, e não mero coautor do autoritarismo chavista.
E ainda teve Evo Morales falando de “colonizadores versus colonizados”.
Esses todos foram aplaudidos por Dilma. Se produção de tolices fosse
petróleo, a sede da Opep seria aqui.
É chocante ver que discursos equilibrados foram desprezados. Caso dos
presidentes de Honduras, que defendeu a redução da pobreza com medidas
sociais casadas com o desenvolvimento sustentado. E o do Peru, que
pregou unidade no combate ao tráfico, à desigualdade e à fome. Como não
fizeram bravatas contra os Estados Unidos, não obtiveram sucesso.
Esse populismo parecia ter morrido na década de 1980, mas, nos últimos
20 anos, partidos populistas se apropriaram de movimentos sociais que
surgiram para reivindicar melhores condições de vida para os menos
favorecidos.
A opção dos eleitores por esses líderes foi de início legítima. Mas, uma
vez no poder, os populistas buscaram asfixiar as instituições para nele
se perpetuar. Montaram esquemas de corrupção que dilapidaram riquezas
de seus países. Buscaram calar a imprensa e jogar adversários na
clandestinidade. Desprezaram a boa gestão econômica.
A fatura chegou. Venezuela e Argentina têm as maiores taxas de inflação
do mundo. São, junto com Rússia e Guiné Equatorial, os únicos países que
terão recessão neste ano.
Infelizmente, o Brasil também pode ser incluído neste grupo. Assistimos
ao enterro de uma política econômica que, por quatro anos, só produziu
baixo crescimento, alta inflação e a fuga de investimentos.
No que dependesse do PT, o Brasil também seria incluído no rol das
nações que abraçam o autoritarismo. As instituições foram atacadas
nesses 13 anos. Mesmo em sua mais grave crise, o PT não abre mão dessas
investidas, como na nomeação do tesoureiro do partido para cuidar da
comunicação do governo.
Felizmente, as instituições resistiram. E esta é a força do Brasil, onde o Estado Democrático de Direito é respeitado.
Tenho, apesar do que vi no Panamá, esperança num futuro venturoso para o
Brasil e a América Latina. Atravessamos momento propício para uma
mudança de rumos, em favor de governos mais responsáveis e do
fortalecimento da democracia. É esse o sinal que a população dá nas ruas
do Brasil e de países vizinhos. A liberdade está superando a passos
largos o populismo.
EXTRAÍDADOBLOGROT2014
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