Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 21 de abril de 2015

"Entre o populismo e a liberdade",

por Arthur Virgílio Neto O GLOBO

Raúl Castro foi aplaudido na Cúpula das Américas ao fazer um discurso digno de 1950, falando como se não dirigisse uma das mais longevas ditaduras do mundo


Estive no Panamá e assisti com atenção à Cúpula das Américas. Ficou claro que a América Latina vive uma dicotomia entre o populismo e a liberdade. Lamentavelmente, nos últimos anos, vimos o continente ser varrido por uma onda populista que mostra seus sinais de desgaste. No Brasil, na contramão, o governo insiste em dar sinais de autoritarismo e irresponsabilidade que a sociedade demonstra repudiar.
Dilma terceirizou a economia e a política. Da diplomacia, infelizmente, ela não abriu mão. Continua abraçada a vizinhos de visão política autoritária e prática econômica retrógrada e de costas à maior economia do continente.
Na Cúpula das Américas, o atraso foi a estrela. Raúl Castro foi aplaudido ao fazer um discurso digno de 1950, falando de liberdade como se não dirigisse uma das mais longevas ditaduras do mundo.
Cristina Kirchner jogou a culpa do seu fracasso nos Estados Unidos. Criticou os “terríveis ditadores” que a Argentina já teve e citou respeitosamente Perón, espécie de El Cid da confusão ideológica que resume a raiz política da atual presidente.
Nicolás Maduro falou sem ser cobrado pelos atentados seguidos à democracia e à liberdade de imprensa. Discursou como se fosse um gestor vitorioso, e não mero coautor do autoritarismo chavista.
E ainda teve Evo Morales falando de “colonizadores versus colonizados”. Esses todos foram aplaudidos por Dilma. Se produção de tolices fosse petróleo, a sede da Opep seria aqui.
É chocante ver que discursos equilibrados foram desprezados. Caso dos presidentes de Honduras, que defendeu a redução da pobreza com medidas sociais casadas com o desenvolvimento sustentado. E o do Peru, que pregou unidade no combate ao tráfico, à desigualdade e à fome. Como não fizeram bravatas contra os Estados Unidos, não obtiveram sucesso.
Esse populismo parecia ter morrido na década de 1980, mas, nos últimos 20 anos, partidos populistas se apropriaram de movimentos sociais que surgiram para reivindicar melhores condições de vida para os menos favorecidos.
A opção dos eleitores por esses líderes foi de início legítima. Mas, uma vez no poder, os populistas buscaram asfixiar as instituições para nele se perpetuar. Montaram esquemas de corrupção que dilapidaram riquezas de seus países. Buscaram calar a imprensa e jogar adversários na clandestinidade. Desprezaram a boa gestão econômica.
A fatura chegou. Venezuela e Argentina têm as maiores taxas de inflação do mundo. São, junto com Rússia e Guiné Equatorial, os únicos países que terão recessão neste ano.
Infelizmente, o Brasil também pode ser incluído neste grupo. Assistimos ao enterro de uma política econômica que, por quatro anos, só produziu baixo crescimento, alta inflação e a fuga de investimentos.
No que dependesse do PT, o Brasil também seria incluído no rol das nações que abraçam o autoritarismo. As instituições foram atacadas nesses 13 anos. Mesmo em sua mais grave crise, o PT não abre mão dessas investidas, como na nomeação do tesoureiro do partido para cuidar da comunicação do governo.
Felizmente, as instituições resistiram. E esta é a força do Brasil, onde o Estado Democrático de Direito é respeitado.
Tenho, apesar do que vi no Panamá, esperança num futuro venturoso para o Brasil e a América Latina. Atravessamos momento propício para uma mudança de rumos, em favor de governos mais responsáveis e do fortalecimento da democracia. É esse o sinal que a população dá nas ruas do Brasil e de países vizinhos. A liberdade está superando a passos largos o populismo.
EXTRAÍDADOBLOGROT2014

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