Paulo Briguet
Uma passagem bíblica que me emociona sempre é a resposta do centurião romano quando Jesus se oferece para ir até a casa dele: “Eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e meu servo será salvo”. Essa frase encantou Jesus, que declarou não ter visto uma fé tão grande mesmo entre os filhos de Israel. O diabo – nome cujo sentido é “aquele que acusa” ou “aquele que divide” – afirma-nos exatamente o contrário: “Dizei uma palavra e sereis morto”.
Conheço um homem que passou um longo período na prisão – onde foi diariamente violentado – por ter escrito uma frase infeliz. O que me assombra, no caso, não é a reação das pessoas contra uma palavra, mas a impossibilidade de perdão.
No romance “A Marca Humana”, de Philip Roth, um professor universitário americano faz uma piada sobre alunos que nunca apareceram nas aulas. Chama-os de “spooks” (fantasmas). Ocorre que os alunos, os quais o professor nunca tinha visto, eram negros. E “spooks”, descobre-se depois, vem a ser uma antiga gíria racista em desuso. O professor tem a sua vida e carreira destruídas. Sem perdão.
Aristóteles diz que a política é a arte de promover o bem das pessoas. Mas ele também alerta: quando desvirtuada, a política transforma o homem no pior dos animais. Os patrulheiros da linguagem utilizam a política como forma de aniquilação do oponente. Nesse sentido, eles são os verdadeiros adeptos do golpe. Golpista é aquele que destrói o inimigo por uma única palavra.
EXTRAÍDADOSITEPUGGINA.ORG





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