por José Roberto de Toledo O Estado de São Paulo
Dilma Rousseff terceirizou a condução da economia para o ministro
Joaquim Levy, a articulação política para o vice Michel Temer e
imaginava que o terceiro turno havia acabado. Declarou isso na
terça-feira. Acordou um dia depois e percebeu que seu pesadelo não tinha
fim. A prisão do tesoureiro que o PT insistiu em manter com a chave do
cofre uniu a oposição pelo impeachment - e afastou a presidente do
partido de Lula.
Se ficar tête-à-tête com Barack Obama, Dilma poderia pedir dicas sobre
como lidar com uma oposição que está sempre tentando trançar-lhe o pé e,
se der, derrubá-lo. No Brasil, pode parecer novidade, mas nos EUA é do
jogo já faz tempo. O presidente tem de estar sempre em guarda e, de
preferência, na ofensiva, para tomar o controle da narrativa. Se recua, a
oposição toma-lhe terreno, o discurso e, quem sabe, o cargo.
A cordialidade na política brasileira está tão superada quanto as
peladas entre deputados de partidos rivais na Constituinte. Lula fez
muitas amizades naquele tempo, mas poucos sobraram daquele time, seja no
Congresso, seja nas cúpulas partidárias. Os que restaram não jogavam
bola - salvo Aécio Neves. Sem interlocução, diminui a chance de acordos.
Nesse novo campeonato político, o conflito é permanente, o adversário
joga bruto, a imprensa corneta e, às vezes, até o juiz é do contra - uma
Taça Libertadores sem fim. Mas, como bem enunciou o sábio corintiano
Vicente Matheus, quem entra na chuva é para se queimar. E queimados,
todos estão.
Pesquisa inédita mostra que, se a política está uma brasa, os partidos
viraram carvão - quando não, cinzas. O Ibope registrou novo recorde na
sua série histórica de preferência partidária: 2 de cada 3 brasileiros
não têm simpatia por nenhuma sigla. No auge dos protestos de 2013 a taxa
dos sem-partido chegara a inéditos 59%. Desde então, cresceu e
alcançou, este mês, os 66%.
Quando - entre uma votação e outra de artigos da nova Constituição - o
petista Lula e o futuro tucano Aécio corriam atrás da pelota com
confrades do PT e do PMDB, a maioria dos brasileiros tinha preferência
por esta ou aquela agremiação política. Em 1988, havia inacreditáveis
26% de simpatizantes peemedebistas. Os petistas e sua área de influência
ainda eram 12%, e as demais siglas somavam 24% das preferências do
público.
Mesmo durante as crises do final do governo Sarney, do impeachment de
Collor e da superinflação do começo da gestão Itamar a proporção dos
sem-partido nunca chegou nem à metade da população. Sua taxa oscilou na
faixa dos 40% por toda a era FHC. O PSDB absorveu alguns
ex-peemedebistas e bateu em 10% de simpatizantes no primeiro mandato de
Fernando Henrique. Mas caiu junto com a popularidade do ex-presidente no
começo de 1999.
Os anos 2000 assistiram à ascensão fulminante do petismo. Como já haviam
faturado nas crises anteriores, os petistas cresceram durante o apagão
do governo FHC. Saíram de 15% das preferências para picos de mais de
30%, superando de vez o PMDB. O petismo emagreceu durante a crise do
mensalão enquanto os tucanos pareciam ganhar musculatura. Mas Lula se
reelegeu em 2006, o PT se alimentou da popularidade do presidente, e o
PSDB murchou.
Desde então, a taxa dos sem-partido é a imagem no espelho do petismo. Se
um sobe, o outro cai - sem que os demais partidos cheguem nem perto dos
dois dígitos e participem da cena. Foi nesse período que a disputa
política mais se acirrou. Quanto mais violenta a partida, menor o
público disposto a assisti-la.
Por causa da economia, da corrupção e da decepção com Dilma, o PT caiu a
14% de simpatizantes. Regrediu 15 anos. O resultado é que o antipetismo
é hoje mais do que o dobro do petismo. Segundo o Ibope, 35% dos
brasileiros se declaram contra o PT. Por isso, quase qualquer um - menos
os queimados partidos tradicionais - consegue mobilizar tanta gente em
manifestações antipetistas.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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