editorial do Estadão
A polêmica que cerca o programa Mais Médicos, desde que ele foi lançado
pela presidente Dilma Rousseff em julho de 2013, só faz crescer.
Enquanto o governo continua a cobri-lo de elogios e insiste em dele
tirar proveito político, as críticas se multiplicam e as deserções de
médicos cubanos - de longe o maior contingente do programa - vêm
aumentando. Não surpreende, diante desse quadro, que comecem a surgir
propostas concretas para corrigir seus rumos, especialmente no que se
refere à questão-chave das relações com Cuba.
O mais recente problema são as restrições impostas pelo governo cubano à
permanência no Brasil de parentes dos médicos que para cá envia.
Alega-se que eles podem vir aqui apenas em visita. Por isso, Cuba vem
pressionando os médicos a enviar de volta seus parentes, brandindo duas
ameaças para enquadrá-los nessa regra - cassar seus diplomas ou retê-los
em Cuba, onde devem obrigatoriamente passar suas férias. Ao impedir
essa reunião familiar, o que se pretende é evitar que ela facilite a
deserção dos médicos que trabalham no Brasil.
O resultado pode ser o contrário do pretendido. Segundo o jornal Folha
de S.Paulo, a médica Dianelys San Roman Parrado, em vez de ceder às
pressões para convencer seu marido e seu filho a voltarem a Cuba,
abandonou o Mais Médicos, do qual participava desde dezembro de 2013, e
fugiu para Miami. Segundo seu supervisor, o médico Gustavo Gusso, que
elogia seu trabalho, "ultimamente ela estava muito nervosa com a
pressão. Tinha medo, chorava". O caso desvenda mais um aspecto da forma
autoritária como o governo cubano trata os médicos do programa e pode
levar outros a seguir o exemplo da colega que fugiu para os Estados
Unidos.
Desde o início do programa, 40 médicos já desertaram. Na Venezuela, onde
atuam 30 mil profissionais cubanos (no Brasil eram 11.429 em dezembro),
o problema é mais grave, por causa não apenas das duras restrições a
que estão sujeitos, como também da difícil situação em que se encontra o
país. Lá o número de desertores para os Estados Unido havia chegado a
700 no final do ano passado, de acordo com a ONG Solidariedade Sem
Fronteiras, que tem sede em Miami.
Numa tentativa de dar solução definitiva ao problema, Cássio Cunha Lima
(PB) e Aloysio Nunes Ferreira (SP), respectivamente líder e vice-líder
do PSDB no Senado, apresentaram projeto de decreto legislativo que anula
o acordo assinado pelo Brasil com a Organização Pan-Americana de Saúde
(Opas), por meio da qual são contratados os médicos cubanos. Afirmam
eles que "não se trata de termo de ajuste ou de cooperação técnica, mas
de verdadeiro acordo bilateral com o objetivo de transferir dinheiro à
ditadura cubana".
A diferença gritante entre o que recebem os demais médicos do programa e
os cubanos (que são a imensa maioria, 79%) foi uma das coisas que mais
chamaram a atenção quando ele foi lançado. Mesmo depois de reduzida,
diante da sua repercussão negativa, ela continua muito grande - dos R$
10 mil pagos pelo governo aos profissionais, os cubanos ficam com cerca
de R$ 3 mil (o cálculo é feito em dólar, cuja cotação varia). O restante
é enviado a Cuba - uma pequena parte para a família do médico e o
grosso para o governo.
Não há, portanto, exagero no que dizem os autores do projeto. Se os
números não bastassem para provar isso, gravações exibidas recentemente
pela TV Bandeirantes tiraram qualquer dúvida que pudesse existir. Elas
mostram assessores do Ministério da Saúde reunidos tentando encontrar
maneiras de encobrir o verdadeiro objetivo do programa, que foi desde o
início o de ajudar o governo cubano, repassando-lhe a maior parte da
remuneração dos médicos.
Depois disso, soa falso o argumento do ministro da Saúde, Arthur Chioro,
segundo o qual aquele projeto tem "motivação política" e é "um atentado
contra a população", porque acaba com o Mais Médicos. Está certo Cunha
Lima quando responde que ele acaba é com a fraude.
extraídadoblogrota2014
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