editorial de O Globo
Estabelecida
a necessidade imperiosa de se reequilibrar as contas públicas, o
governo repete o velho erro de preferir arrecadar mais do que cortar
gastos
Anunciado o nome de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda no segundo
mandato de Dilma, foi confirmado que a política econômica seria de
aperto — como aconselhava a lógica, apesar de todo o discurso em sentido
contrário feito do palanque da reeleição.
E ficou no ar a questão-chave de qual a rota escolhida para reequilibrar
as contas públicas, se mais por meio de cortes de despesas ou com um
peso maior na elevação de impostos, caminho usual trilhado pelos
governos, mesmo que a carga tributária — acima de 35% do PIB, antes do
agravamento da crise — tenha ultrapassado todos os parâmetros da
sensatez.
Disparado, o país é o que que mais cobra impostos entre os emergentes, e
chega a ter uma voracidade na coleta tributária maior que muitas
economias desenvolvidas.
Passados três meses completos de governo, infelizmente confirma-se a
tradição quase confiscatória do Erário nacional. Na sexta-feira,
reportagem do GLOBO trouxe macabras estimativas do economista Mansueto
Almeida: dos R$ 50,5 bilhões já potencialmente garantidos para o ajuste,
62,4% foram obtidos por meio de impostos, e apenas 37,6% via corte de
gastos. Para atingir-se a meta de 1,2% do PIB, faltam aproximadamente R$
16 bilhões. A seguir este padrão, não é difícil prever que vem por aí
mais pressão tributária.
No dia anterior ao da reportagem, na quinta, a Fazenda havia anunciado a
reativação de uma cobrança de PIS-Cofins sobre aplicações financeiras
de empresas de alguns setores.
Numa penada, o imposto ressuscitado amealhará, este ano, R$ 2,7 bilhões,
a partir de agosto. Assim, em busca de recursos para atingir a meta do
ajuste, o Erário investe contra a poupança de empresas. Na prática,
reduz a sua capacidade de investir, mesmo sendo a baixa taxa de
investimento (cerca de 15% do PIB, quando seriam necessários algo como
22% do PIB) uma das piores mazelas enfrentadas pelo país nos últimos
anos. Passa-se, dessa forma, a comprometer a retomada do crescimento.
O discurso embebido em ideologia forjado pelo PT contra o ajuste mira os
“lucros exorbitantes”, a “riqueza” e similares, pretensamente para
proteger o povo. De fato, os mais vulneráveis necessitam de redes de
proteção. Mas se o Ministério da Fazenda fizer concessões e taxar lucros
que deixarão de se converter em investimento, o povo é que será
atingido, mais adiante, pela falta de empregos e salários.
Há, ainda, o aceno da solução fácil do imposto sobre fortunas, embora
seja um gravame abandonado por vários países por exigir controles
custosos, a ponto de não compensar a arrecadação em muitos casos.
Enquanto isso, mantém-se um número excessivo de ministérios (39) e uma
quantidade abusiva (22 mil) de cargos ditos de confiança, para abrigar
companheiros na obesa máquina pública.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014





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