, editorial de O Globo
Escândalos que arranham o lulopetismo desde 2005 não impedem Dilma de fazer escolhas com base no fisiologismo, raiz de casos de corrupção
Talvez a peculiaridade das eleições de 2014 que mais chame a atenção
seja o fato de o candidato derrotado, o tucano Aécio Neves, ter saído
das urnas revigorado, enquanto Dilma Rousseff, reeleita, amargue uma
série de dissabores.
Parte deles tem a ver com a estratégia de campanha da petista, assentada
num discurso de negação de qualquer dificuldade na economia e de
crítica cerrada a mudanças que, encerrado o pleito, ela teria de
admitir. Mesmo dentro do seu partido há quem se sinta vítima de
estelionato eleitoral.
Uma outra peculiaridade ainda está em curso. Trata-se da montagem do
ministério para o segundo mandato, em que velhos erros são cometidos,
num temerário repeteco das fórmulas fisiológicas do toma lá dá cá,
origem dos escândalos que arranham o lulopetismo desde 2005, quando o
mensalão foi descoberto. O loteamento de cargos na diretoria da
Petrobras, com fins político-eleitorais, é que produziu o maior
escândalo da histórias do país, ainda em investigação.
A barganha da cessão de orçamentos ministeriais em troca de votos no
Congresso, sabem todos, é a antessala de deslizes éticos e/ou
ineficiência administrativa. Planta-se hoje a CPI e o escândalo de
amanhã.
É preocupante, por exemplo, escalar um dos Gomes do Ceará, Cid (PROS),
para o MEC, sem que se conheça qualquer especialização do governador na
área crítica da Educação, bem como o deputado pelo PRB e pastor da
Universal George Hilton para o Ministério dos Esportes, enquanto se
entra na fase final dos preparativos das Olimpíadas no Rio. Além de o
futebol se encontrar em meio a importante debate sobre a renegociação do
passivo tributário dos clubes, em troca da sua modernização gerencial.
Como o objetivo prioritário é manter no cabresto apoios no Legislativo,
transfere-se Aldo Rebelo (PCdoB) dos Esportes para Ciência e Tecnologia.
Nos Esportes, o ministro tratou do futebol com a devida prioridade e
desativou a usina de malfeitorias de camaradas tripulantes de ONGs
fajutas ou quase. Com a nova área, Rebelo não demonstra afinidades.
Quando não defende teses equivocadas: em 1994, propôs projeto de lei
para impedir a adoção, pelos órgãos públicos, de tecnologias que poupem
mão de obra. Fez lembrar a inglória luta de operários ingleses contra as
máquinas, na Revolução Industrial.
Se o objetivo fosse montar uma equipe à altura da agenda de problemas,
não faria também sentido empregar derrotados de 2014: Helder Barbalho
(PMDB do Pará, filho do cacique ficha suja Jader) e Eduardo Braga (
PMDB-AM), próximos ministros da Pesca e de Minas e Energia. Num
ministério de 39 Pastas, a possibilidade de se cometer erros é imensa. E
eles estão sendo cometidos.
A presidente Dilma fez autocrítica na condução da economia. Faltou
admitir equívocos na gestão política e administrativa do restante do seu
primeiro mandato.
FONTE ROTA2014
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