Um país curioso, o nosso: aqui o treinador de futebol é chamado de
“professor”, o professor de “tio”, e falar em mãe é xingamento. Uma
república curiosa, a nossa: tem mais de um século e continua obrigando a
população a usar nomes pomposos para quem se julga superior aos outros.
Juiz, por exemplo, é “meritíssimo”, tenha ou não mérito, tenha ou não
sido reprovado em concurso. Um reitor deve ser tratado, acredite, por
“vossa magnificência”. Ocupantes de cargos executivos são
“excelentíssimo senhor governador” (ou prefeito, ou presidente),
independentemente da excelência de sua administração, de seus
conhecimentos ou de seus princípios. Tanto é excelentíssimo um
governador competente e ilibado quanto um que tenha deixado o palácio
para merecidamente habitar um presídio.
Às vezes a nossa maneira de denominar os cidadãos mais iguais se torna
involuntariamente engraçada. Assista a um debate parlamentar e ouvirá
coisas como “Vossa Excelência é um ladrão”, ou “Vossa Excelência falta à
verdade e tenta ocultar suas ignóbeis intenções”. Onde está a
excelência do ladrão, do mentiroso, do dissimulado que oculta suas
ignóbeis intenções? Há ótimos casos no Congresso: Carlos Lacerda, um dos
maiores oradores do país, teve certa vez o discurso interrompido por um
adversário, aos berros de “Vossa Excelência é um purgante”. Respondeu
em cima: “E Vossa Excelência é o efeito”.
Mas ambos eram Excelências. Já o cidadão comum, no Congresso, é só
“Vossa Senhoria”. Não é nobre o suficiente. E os outros se julgam nobres
demais.
A origem das palavras
Salamaleque é a adaptação do ritual árabe de saudação, em que
tradicionalmente quem chega diz “Salaam Aleikum” (a paz seja convosco) e
quem o recebe responde “Aleikum Salaam” (seja convosco a paz). Virou,
em português, sinônimo de cumprimentos exagerados. O mesmo que rapapé –
uma antiga saudação em que, em sinal de respeito, arrastava-se o pé para
trás.
Não confundir com pés-rapados. Esses, que exigem tratamento especial, pés-rapados é que não são.
Fica combinado assim
O Diretório Nacional do PT decidiu expulsar qualquer filiado envolvido
comprovadamente em casos de corrupção. Mas só vale da Operação Lava-Jato
para cá. Casos anteriores, de réus condenados e cumprindo pena, são
casos anteriores.
É hoje!
Hoje, no finzinho da tarde, sai a primeira indicação de como será a
economia brasileira na era Dilma 2.0: o Banco Central comunica a nova
taxa de juros, que hoje está em 11,25%. Se subir (fala-se entre 0,25% e
0,5%) a presidente não terá esperado sequer que Guido Mantega vá para
casa antes de inverter o jogo.
Ministros cadentes
Guido Mantega foi demitido em entrevista coletiva, no início de
setembro, mas não há vassoura atrás da porta que o convença a ir embora.
E não é o único dos ministros de Dilma a receber tratamento de segundo
time. Ministros que foram ignorados pela presidente por pelo menos um
ano (se o caro leitor não lembrar dos nomes, não faz mal. A presidente
também não lembra, apesar de sua memória excelenta): Garibaldi Alves,
Previdência; Mauro Borges, Desenvolvimento; Eduardo Lopes, Pesca; Manoel
Dias, Trabalho; Jorge Hage, Controladoria Geral da União; Laudemir
André, Desenvolvimento Agrário; Clélio Diniz, Ciência e Tecnologia;
Luiza Helena Barros, Igualdade Racial; e o general José Elito, Segurança
Institucional, não tiveram qualquer audiência com Dilma em 2014.
Vinícius Lage, Turismo, deixa o cargo sem jamais ter sido recebido.
Mal como nunca, bem como sempre
Os rumores são terríveis: de que haveria uma investigação especial sobre
a Odebrecht, que seus diretores estariam preparados para receber voz de
prisão, que os advogados da empresa se manteriam em alerta permanente.
Até pode ser.
Mas, tirando as suposições, há um fato real: no dia 13 próximo, a
Odebrecht inaugura o aeroporto de Nacala, em Moçambique, construído com
US$ 140 milhões de dólares do BNDES. Moçambique assume a dívida com o
banco brasileiro, mas os recursos para a construção do aeroporto foram
entregues diretamente à construtora, para evitar burocracia e atrasos.
Aliás, certamente para evitar burocracia e atrasos, não houve nem
licitação: a obra foi direto para a Odebrecht.
Geladeira brasiliense
Lembra do conselheiro Eduardo Saboia? Foi ele que, num ato de grande
coragem pessoal, retirou o senador boliviano Roger Pinto Molina,
perseguido pelo Governo de Evo Morales, da Embaixada brasileira na
Bolívia, onde estava asilado há 15 meses em péssimas condições, e o
trouxe de automóvel para o Brasil. Saboia foi colocado na geladeira pelo
Itamaraty; e um processo disciplinar foi aberto contra ele. Agora, mais
de um ano depois da libertação do senador boliviano, o inquérito contra
Saboia foi arquivado. O que quer dizer apenas que Saboia não corre o
risco de punições administrativas.
Ao que tudo indica, continuará na geladeira, indicado apenas para cargos sem importância, no próprio Brasil.
O preço do saber
Há quem diga que Saboia deixou de ser punido por saber demais. Que maldade!
FONTE ROTA2014
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