Andreza Matais - O Estado de São Paulo
Para equilibrar despesas, pagamento a 125 mil funcionários tradicionalmente feito no dia 19 este ano ocorrerá somente no dia 31
Um
dos maiores empregadores do País, os Correios decidiram alterar a data
de pagamento dos salários dos seus 125 mil funcionários no mês de
dezembro. A segunda parte do 13º salário também só será pago no dia 19 e
não mais no primeiro dia de dezembro, como ocorre tradicionalmente.
Funcionários da empresa disseram ao 'Estado' que há pelo menos 20 anos
os Correios fazem a antecipação salarial e do benefício no período do
Natal.
Os Correios depositam os salários dos funcionários no último dia do mês.
Em dezembro, contudo, o dinheiro entra na conta no dia 19, antes do
Natal. Neste ano, os funcionários já foram avisados de que os salários
só serão depositados no dia 31 de dezembro, 12 dias depois.
No caso do 13º, o benefício tradicionalmente é pago no primeiro dia de
dezembro. Mas os Correios prorrogaram para o dia 19 o pagamento. O
conselho de administração da empresa questionou a diretoria sobre a
quebra na tradição no período natalino, mas ainda não obteve resposta.
O "arrocho" nos Correios não é uma reação antecipada ao fiscalismo da
nova equipe econômica, que será comandada pelo ministro indicado da
Fazenda, Joaquim Levy. Por meio da assessoria, os Correios informaram
que a mudança na data dos pagamentos em dezembro deve-se à necessidade
de "equilibrar as despesas do período e atende o disposto pela
legislação brasileira."
Segundo os Correios, "em 2014 a empresa teve grandes desembolsos no
segundo semestre com o acordo coletivo de trabalho que reajustou os
salários de 90 mil trabalhadores em cerca de 18% e com o plano de
demissão incentivada." Com a possibilidade de fechar 2014 no vermelho, a
empresa enfrenta denúncias de corrupção no fundo de pensão dos
funcionários, o Postalis, que acumula déficit de R$ 2,7 bilhões nos dois
últimos anos - uma conta que será dividida entre os funcionários e a
empresa.
Desvios. A
Operação Lava Jato, que investiga desvios de recursos na Petrobrás,
encontrou indícios de que o esquema também funcionou no Postalis. No mês
passado, a Polícia Federal deflagrou operação para combater fraudes na
Gerência de Saúde dos Correios, que teria desviado R$ 7 milhões da
empresa e envolveria a participação da cúpula da estatal no Rio de
Janeiro.
Conforme dirigentes dos Correios ouvidos pelo Estado, pela primeira vez
neste ano a empresa deve contabilizar prejuízo considerando os
resultados dos investimentos e aplicações financeiras. A empresa
continua dando prejuízo operacional, quando se considera apenas a
receita com a atividade para a qual foi criada e que tem exclusividade
de atuação - entrega de carta, telegrama e correspondência agrupada.
Oficialmente, a empresa nega trabalhar com expectativa de prejuízo no
balanço do ano de 2014. Perguntada sobre essa hipótese, responde apenas:
"Não." Em meio a esses números, os Correios gastaram neste ano R$ 42
milhões para alterar a sua logomarca e foi acusada de uso eleitoral em
favor da campanha de Dilma Rousseff à reeleição.
O Estado revelou
que a empresa abriu exceção para distribuir 4,8 milhões de panfletos da
campanha de Dilma sem chancela, selo que comprovaria a postagem. Os
Correios negaram uso político da empresa.
Sobre o novo logotipo, a empresa afirmou, na época, que a "nova marca é
resultado do novo posicionamento dos Correios, já que a empresa está
entrando em novas atividades, como serviços postais financeiros,
eletrônicos e de logística integrada e passa por um processo de
revitalização desde 2011, com recuperação da capacidade de investimentos
e da qualidade operacional."
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