por Dora Kramer
O Estado de São Paulo
Entre as várias ideias vagas que embalam esta campanha, uma delas reza
que se a presidente Dilma Rousseff for reeleita o medo terá vencido a
esperança. É de se perguntar medo do quê exatamente o governo estaria
conseguindo incutir no eleitorado.
De perder os benefícios sociais parece pouco para explicar. Teria o PT
conseguido baixar tanto o padrão, desmoralizar de tal forma a tudo e a
todos, desqualificar de maneira tão insidiosa os adversários que a
população teria se convencido de que não há gente mais decente e
competente para governar o País? Nos últimos 12 anos teria o Brasil
perdido a memória de sua história e acreditado na fábula de que era tudo
uma tragédia antes do advento do Lula lá?
É uma possibilidade. Pois se a economia vai muito mal, se o governo não
admite os erros e não dá sinal de que mudará o rumo, manipula
informações sem a menor cerimônia, gasta, não se compromete com ajustes,
dá de ombros para a inflação e ainda assim permeia o ambiente um
sentimento de medo com a hipótese de fim de um ciclo, deve ser por algum
tipo de condicionamento à lógica do "pior sem ele" - o PT.
No campo da política existe o clamor geral pela reforma. Não há quem não
condene a atual sistemática de aparelhamento da máquina do Estado, de
loteamento partidário, distribuição de cargos em troca de apoio no
Congresso e zero exigência de mérito para a ocupação de ministérios. O
fisiologismo passou de exceção a regra e o Congresso só não chegou ao
fundo do poço porque nesse fosso sempre se cava mais um pouco.
Pois muito bem. A presidente em momento algum da campanha se viu
motivada a firmar compromisso algum no sentido da mudança. Ao contrário.
Defendeu o latifúndio de ministérios, em troca de minutos no horário
eleitoral renovou o contrato com gente que havia demitido na faxina
cenográfica e deixou patente que se tiver um segundo mandato continuará
tudo como está.
Não haveria uma contradição entre o repúdio às chamadas velhas práticas
pelo PT corroboradas e a posição de 40% do eleitorado? Tomando como
verdadeira a premissa sobre a vitória do medo, aqui tampouco se
compreende de imediato a origem do temor. A não ser que a razão seja
também a acomodação ao baixo padrão. A sensação de que "sempre foi
assim" e que, portanto, qualquer grupo político faria o mesmo no poder.
A gigantesca e eficiente máquina de propaganda petista pode ter feito
esse malefício e aqui também criado um vasto lapso de memória em relação
a um tempo em que no Congresso as decisões e negociações passavam por
um conjunto de líderes muito mais bem qualificados.
Na era petista o controle passou às mãos do baixo clero (real e moral),
cujo padrão é o que se vê. Não foi sempre assim. O comportamento de suas
excelências esteve longe de ser exemplar, mas também nunca esteve tão
perto do execrável com a chancela do Poder Executivo. Os que acompanham o
dia a dia do Parlamento pelo menos desde a Constituinte sabem muito bem
disso.
Quanto à corrupção, o governo encontrou o álibi perfeito para aqueles
que decidiram mandar às favas as relações com qualquer tipo de
escrúpulos ao contar o conto de que dá combate sem trégua ao que chama
de maneira amena de malfeitos. Quem está na cadeia ou sendo alvo de
processos não se encontra em tal situação em decorrência da atuação do
Executivo. Poder-se-ia dizer mesmo que isso ocorreu apesar de todas as
críticas feitas pelo PT ao longo dos últimos anos a todos os institutos
de controle quando estes contrariavam seus interesses.
Já houve época em que deputados e senadores foram cassados, um
presidente sofreu impeachment e a República nem por isso se sentiu
ameaçada. Pensando bem, talvez o medo de que se fale seja do mal que o
PT possa causar se voltar a ser oposição. Tudo depende do crédito que
ainda merecer.
fonte rota2014
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