APÓIO RODRIGO DELMASSO 19123
Flávia Barbosa - O Globo
Segundo relatório do organismo, país registra rombo de US$ 81 bi, equivalente a 3,6% do PIB
WASHINGTON - O Brasil tornou-se, em 2013, a nação emergente com o
maior déficit externo do mundo, mostra o Fundo Monetário Internacional
(FMI) em capítulo do relatório trimestral “Panorama da Economia Mundial”
divulgado nesta terça-feira na capital americana. Em oito anos, o país
deixou de apresentar saldo positivo nas suas transações com o resto do
mundo (que envolvem comércio exterior, fluxo de investimentos, gastos de
turistas, empréstimos etc) para apresentar rombo de US$ 81 bilhões, o
equivalente a 3,6% de seu Produto Interno Bruto (PIB) e 0,11% do PIB
global. Para o FMI, é hora de o governo agir para reduzir o rombo, antes
que consequências negativas se materializem.
Em 2006, base de comparação escolhida pelo Fundo por ser o último
período integralmente livre de abalos que culminariam na grande crise de
2008, o Brasil não integrava as listas de maiores superávits externos
nem de maiores déficits. Ou seja, apresentava contas mais equilibradas.
EUA e Reino Unido, nesta ordem, ocupam os primeiros lugares no ranking
de maiores saldos vermelhos.
— O caso do Brasil é importante. O Brasil tinha superávit em 2006 e
passou para um déficit em 2013. Os níveis de déficit estão próximos ao
que encontramos como limite para economias emergentes. Neste sentido,
pode ser talvez preocupante. Por esta razão, o Brasil precisará a
começar a trabalhar para reduzir esses desequilíbrios — afirmou o
economista Marco Torrones, do Departamento de Pesquisa do FMI, que
coordenou a avaliação.
Vice-diretor do Departamento de Pesquisas do Fundo, Gian Maria Milesi
Ferreti complementou que, mesmo com o avanço do rombo externo em países
como Brasil, Índia, Indonésia, México, Turquia, Canadá e Austrália, o
quadro global é positivo. Ele admitiu, porém, que o resultado dessas
nações não está em linha com os fundamentos das economias, como seria
desejável:
— Comparado com os desequilíbrios antes da crise, o que vemos é que,
embora tenhamos déficits relativamente grandes em algumas economias
avançadas e mercados emergentes, comparados com o que achamos que é
apropriado com base nos fundamentos econômicos, esses déficits
mantêm-se, em termos absolutos, muito menores do que aqueles que víamos
antes da crise. E esta é a base da nossa avaliação geral, de que o o
risco global de uma reversão nas contas correntes diminui.
PAÍS É O TERCEIRO MAIS ENDIVIDADO
O Brasil também subiu, em 2013, na lista de países com o maior nível de
endividamento no exterior, pulando da sexta para a terceira posição,
atrás apenas dos EUA e da Espanha, respectivamente. A dívida externa
total atingiu US$ 750 bilhões, ou 33,4% do PIB (1,01% do PIB global).
“Na maioria dos casos (emergentes), as posições de maior endividamento
não foram acompanhadas de ampliação dos investimentos fixos (como
infraestrutura) e crescimento maior”, observa o FMI. A observação é
genérica. O relatório do FMI não faz análise detalhada da situação
brasileira.
Rombos externos não são necessariamente sintomas de crise e
desequilíbrios graves. Mas, nota o FMI, “déficits grandes, e os
compromissos externos (endividamento) líquidos associados a eles, no
entanto, expõem o país a riscos de interrupção abrupta de financiamento
ou da rolagem desses compromissos”. Especialmente quando há mudança de
humor no mercado, seja por desconfiança com as condições domésticas,
seja por mudanças em políticas que afetam o mundo, caso do fim do ciclo
de estímulos monetários à economia dos EUA .
O FMI nota que o Brasil faz parte de um grupo de países na contramão do
quadro geral internacional. De forma geral, no período entre 2006 e
2013, os principais desequilíbrios externos no mundo foram reduzidos. Os
dez maiores déficits, que somavam 2,3% do PIB global, passaram a
representar 1,2%.
Também houve desconcentração. Se os cinco maiores rombos somavam 80% do
rombo em 2006, em 2013 eram menos de 65%. No resultado mais importante
do levantamento, os Estados Unidos reduziram à metade seu déficit
externo, de carona na desaceleração provocada pela Grande Recessão.
CHINA REDUZ SUPERÁVIT
Já a China, que preocupava analistas pelo efeito distorcivo do superávit
que acumulava para a economia mundial, reduziu seu saldo positivo e
cedeu o topo do ranking superavitário à Alemanha. A economia chinesa
ampliou no período investimentos domésticos, utilizou política fiscal
expansionista e enfrentou desaceleração da demanda externa. No lado do
superávit, o grupo dos 10 maiores, que acumulava 2,1% do PIB global,
hoje amealha 1,5%.
Apesar dos movimentos, o FMI diz que é cedo para saber se a redução do
desequilíbrio externo global é permanente, embora a principal hipótese
com a qual trabalha é que a recuperação do ritmo de crescimento não
promoverá uma reversão radical do quadro atual.
Em outro capítulo do Panorama, o Fundo advoga que chegou a hora de o
setor público dos países, independentemente do porte e do grau de
desenvolvimento de suas economias, investirem pesadamente em
infraestrutura. Segundo o organismo multilateral, o estoque de capital
fixo público como proporção do PIB, uma medida de infraestrutura, caiu
de forma significante em 30 anos.
Países emergentes, segundo o FMI, estão ficando para trás. O organismo
tem recomendado ao Brasil sistematicamente que retome este tipo de
investimento para melhorar a capacidade de oferta e religar os motores
da economia brasileira. No relatório, aponta novamente para esta
fragilidade, alertando que os efeitos deste tipo de entrave já estão
sendo sentidos.
“Embora muitos fatores possivelmente estejam contribuindo, uma
preocupação frequentemente expressa (sobre os emergentes) é
infraestrutura inadequada. Em muitos mercados emergentes, incluindo
Brasil, Índia, Rússia e África do Sul, gargalos de infraestrutura não
são apenas preocupações de médio prazo, mas têm sido impedimentos ao
crescimento mesmo no curto prazo”.
FONTE ROTA2014
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