O mandato de Dilma durou apenas dois anos. Os outros dois, agora, serão anulados tentando conseguir mais quatro. Ou: Ninguém sabe ser tão inescrupuloso quanto Lula
Mal
saímos de uma campanha eleitoral, já estamos em outra. É o ritmo
frenético que Lula impõe ao processo político. Não tem jeito. Ele não
consegue descer do palanque. É o seu elemento. Isso mantém
permanentemente mobilizadas as bases de seu partido e também força
adversários e aliados a fazer escolhas precoces. Como estes não têm
exatamente uma agenda própria e se colocam como meros caudatários dos
comandos petistas — sim, vale também para PSDB —, o Apedeuta pinta e
borda.
Com dois
ou três movimentos, Lula já colocou em xeque o governador de Pernambuco,
Eduardo Campos (PSB). Estou entre aqueles que acham que seria saudável
que se candidatasse à Presidência — embora eu também queira saber o que
ele pretende e como vai dizer ao eleitorado que permaneceu por tanto
tempo na barca petista até decidir romper. De toda sorte, vejo com
simpatia — e isso não é segredo para ninguém — um eventual racha do
condomínio liderado pelo PT. Mas, também já escrevi aqui, não aposto
muito nisso.
Ocorre que
Lula, de uma ignorância oceânica, é, não obstante, dotado de uma
esperteza política sem concorrentes no país. Nesse particular, e só
nesse, ele é dotado de mais recursos do que FHC, por exemplo. Não por
acaso, já atraiu o seu adversário de divã — sim, o problema é freudiano —
para o bate-boca eleitoral. Levou o PSDB a tentar antecipar a escolha,
os tucanos agiram como patos, e o partido, anotem aí, ainda acabará
assistindo a uma revoada de descontentes se continuar nessa marcha.
Sabem por quê? Com perspectiva de poder, os políticos podem até aceitar
certos atropelos e humilhações. Sem ela, por que aceitariam? E o viés,
tudo contabilizado, não é exatamente de alta para o tucanato na esfera
federal.
Lula
chamou o PSDB para a briga, e alguém lá do ninho teve uma ideia: “Ah,
vamos decidir agora, pronto! E quem não gostar que se dane!”. OU POR
OUTRA: OS TUCANOS COMBINARAM TUDO COM O ADVERSÁRIO, MAS ESQUECERAM DE
COMBINAR COM OS ALIADOS. Lula não aprendeu a fazer essas coisas na
política partidária. Ele vem do sindicalismo, onde só há cobras criadas.
Pior para quem cai na sua conversa.
O Apedeuta
também leva outra vantagem sobre qualquer político: não tem nenhum
escrúpulo. Não é o único. Mas ninguém é tão inescrupuloso, no que
concerne aos hábitos políticos, quanto ele. Ontem, por exemplo, como se
fosse presidente da República, visitou as obras do Maracanã,
acompanhado do governador do Rio, Sergio Cabral (PMDB), e do vice, o sr.
Pezão. Falou aos operários. E qual foi o tema? Os 10 anos do PT no
poder. Ou por outra: foi a um canteiro de obra pública para fazer
proselitismo partidário — não sem elogiar fartamente o anfitrião,
Cabral. PT e PMDB fluminenses estão em pé de guerra por causa de 2014.
Mas o Apedeuta estava lá fazendo a conciliação. Assim como é muito
difícil para Campos levar adiante o seu intento, a candidatura de
Lindbergh não será muito fácil. Em seu discurso no estádio em obras, o
ex-presidente excitou o ufanismo da massa e fez um desagravo de agravo
que não houve: segundo ele, diziam (quem “diziam”?) que o Brasil não
seria capaz de realizar a Copa do Mundo, mas estaríamos provando que é
mentira etc. etc. etc. Bem, nunca ninguém disse isso. Lula vive
atribuindo coisas a um sujeito indeterminado para que possa, então,
afirmar o contrário. Está permanentemente em guerra.
De lá voou
para Fortaleza para um dos eventos que marcam os dez anos da chegada do
PT ao poder. Poucos estão se dando conta do quão autoritário é o
espírito que anima essa comemoração. Os petistas tentam transformar o
ano de 2003 numa espécie de data do calendário oficial, como se tivesse
havido um rompimento da velha ordem em benefício da nova. Que velha
ordem se rompeu? O Brasil já era um democracia plena, regido por uma
Constituição elaborada por representantes do povo, eleitos livremente —
Constituição que os petistas se negaram homologar, destaque-se.
O PT
comemora os 10 anos (tendo a certeza de mais dois que a lei já lhe
assegura) como quem anuncia que virão mais quatro a partir de 2015,
depois outros quatro a partir de 2019; em seguida, outro tanto… E assim
eternidade afora. “É normal, Reinaldo! Os partidos lutam para ganhar
eleições!” Eu sei. Mas não é corriqueiro que transformem isso em marco
inaugural. Fico cá a imaginar se os tucanos decidissem fazer seminário
em São Paulo para exaltar as conquistas dos últimos 18 anos de poder
PSDB — 20 em 2014… O mundo viria abaixo na imprensa paulista: “Ora,
onde já se viu?”. Aliás, nos setores “petizados” das redações, como
sabem, a gente ouve falar na necessidade de “renovação”…
Essa
“comemoração” liderada por Lula é um absoluto despropósito e foi só a
maneira encontrada para deflagrar a campanha antes da hora — o que a Lei
Eleitoral proíbe, é bom lembrar. Mas quem se importa? O inimputável
pode fazer o que lhe der na telha, incluindo proselitismo partidário num
canteiro de obra pública. Não reconhece instância que possa lhe botar
freios.
“Ah, tudo
vai às mil maravilhas com o Brasil, e fica esse Reinaldo Azevedo
enchendo o saco…” Não! As coisas não vão às mil maravilhas, como sabe
qualquer pessoa medianamente informada. Mas nem temos na oposição quem
sem disponha a pôr o guizo no pescoço do gato nem há na situação quem
consiga pôr algum freio em Lula e sua turma. Ele pressentiu que começava
a haver um acúmulo considerável de críticas às irresoluções e
incompetências do governo. Animal político notável, deflagrou a campanha
eleitoral.
O mandato
de Dilma durou apenas dois anos. Os outros dois serão anulados pelas
articulações políticas para conseguir outros quatro a partir de 2015.
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