Dora Kramer: O Estado de São Paulo
Quanto mais se aproxima do precipício, mais velocidade o PT imprime à
caminhada em direção à queda. Queima caravelas e parece querer construir
uma ponte para o passado, comportando-se como o partido que perdeu três
eleições presidenciais antes de vencer quatro vezes consecutivas a
partir de uma reformulação de imagem.
Os movimentos do partido, do governo e respectivas áreas de influência
nas últimas semanas indicam a preparação de uma retirada absolutamente
em desacordo com as práticas mais corriqueiras nem se diga do manual
republicano, mas da civilidade, do bom senso e, sobretudo da lógica na
perspectiva de quem não pretende abdicar da atividade política.
Nada do que dizem ou fazem a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente
Luiz Inácio da Silva e seus correligionários guarda relação com a
sensatez. Ao contrário, mais parecem personagens dos episódios da
História Mundial relatados pela escritora americana Bárbara Tuchman
sobre atos insensatos que levaram seus autores a construírem a
trajetória das próprias derrocadas.
Vejamos alguns dos mais recentes exemplos da marcha da insensatez
petista. Os discursos cada vez mais agressivos da presidente da
República a levaram a contratar desafetos quando necessitava de todo
apoio que pudesse reunir.
O incentivo à guerra de militantes, cuja culminância (por enquanto)
deu-se na quinta-feira quando apoiadores do governo armaram barricadas
em várias cidades, interditando avenidas, agredindo o direito de ir e
vir da população a título de atrair “visibilidade” aos protestos contra o
impeachment. Certamente não conquistaram adeptos à causa entre os
“engarrafados”.
A fim de aproveitar seus últimos momentos, a presidente estava decidida a
aproveitar a passagem hoje do Dia do Trabalhador para anunciar o
chamado pacote de bondades como aumento nos benefícios de programas
sociais e correção na tabela do Imposto de Renda. Por que não fez antes?
Porque não há dinheiro. Mas, como a conta tudo indica será transferida
para o sucessor, às favas com o ajuste de despesas.
A ideia de não fazer a transição para a futura administração denota o
quê? Completa irresponsabilidade para com o País, nota dez em
ressentimento e grau abaixo de zero no quesito espírito público. Há
ainda o plano de reeditar campanha de eleições já, inexequível pela
falta de previsão constitucional e de apoio no Congresso para aprovar a
realização de um pleito extraordinário.
Para concluir, nem falemos sobre um pretenso périplo internacional para
denunciar “o golpe”, porque deste já cuidou o Itamaraty ao se recusar,
com senso do ridículo e conduta de Estado, a aderir a uma cruzada
brancaleone.
Baião de dois. É
fato que os 54 milhões de eleitores que reelegeram a presidente Dilma
Rousseff o fizeram majoritariamente em apoio à campanha do PT. Não é
verdade, porém, que o candidato a vice não os tenha recebido também.
Assim como podemos raciocinar que alguns desses eleitores não tenham
votado em Dilma por discordarem da aliança com o PMDB.
Todos sabiam que elegiam uma dupla. Quem votou em Aécio Neves o fez
consciente de que escolhia o senador Aloysio Nunes Ferreira como o
primeiro na linha de sucessão. Tal informação foi dada ao eleitor,
inclusive na urna eletrônica. Um dos motivos pelos quais não faz sentido
a alegação de que Michel Temer não teria a legitimidade do voto para
governar.
A outra razão está no empenho do próprio PT em reeditar a parceria
oficial com o PMDB firmada em 2010. E qual a motivação dos petistas?
Valer-se da influência, do peso no Congresso, da presença e organização
do partido com maior capilaridade no País.
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