PAULO GUEDES O GLOBO
O ex-presidente FHC comparou em artigo no GLOBO deste domingo os “crimes de responsabilidade” atribuídos agora à presidente Dilma e antes ao ex-presidente Collor em seus julgamentos no Senado. “O crime de responsabilidade de Dilma consiste em ter utilizado os bancos públicos para mascarar a verdadeira situação fiscal da República e ter autorizado gastos sem autorização do Congresso. O crime de responsabilidade de Collor consistiu em receber um automóvel de presente, o que o Senado considerou quebra de decoro. O ministro do Supremo que presidiu o julgamento de Collor no Senado, o jurista Sydney Sanches, disse que desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal e fazer gastos sem autorização do Congresso são formas de quebra de decoro. E que Collor foi absolvido da acusação de crime comum (corrupção) porque não ficou provado que da quebra de decoro tivesse decorrido qualquer benefício para quem o presenteara com o carro”, registra FHC.
Collor estaria incapacitado para governar, sendo inocentado do crime de corrupção. Poderia, então, ter recorrido à narrativa do golpe quando afastado da Presidência. Teve milhões de votos, não caiu pelas urnas. Fenômeno das primeiras eleições diretas para a Presidência após a redemocratização, comportou-se com dignidade e respeito às instituições democráticas durante sua queda. Derrotara nas urnas todas as correntes oposicionistas de “esquerda”, novas como a de Lula e velhas como a de Brizola, assim como os representantes do governo de transição, Aureliano Chaves à “direita” e Ulysses Guimarães e Mario Covas à “esquerda”.
A extraordinária popularidade de um jovem presidente anti-establishment, que chamou Sarney de “corrupto, incompetente e safado” e poderia aposentar por obsolescência as demais lideranças políticas, atemorizou a esquerda hegemônica. Ameaçados de extinção pela fulminante ascensão de Collor, uniram-se todos em um golpe contra ele a pretexto de um Fiat Elba? Eram todos golpistas? Os que creem, como eu, na construção de uma Grande Sociedade Aberta preferem outra narrativa. A saída de Collor registrou um importante aperfeiçoamento institucional de uma democracia emergente, com a declaração de independência de nosso Poder Legislativo ante práticas não republicanas do Executivo.
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