Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

“O médico é o monstro” e outras seis notas de Carlos Brickmann

 Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

O ministro da Saúde, Marcelo Castro, disse que vai torcer para que as mulheres peguem zika antes do período fértil, porque assim não precisarão tomar vacina. O ministro não está no cargo por competência, mas por integrar, no PMDB, a ala contrária ao impeachment. Apesar de sua torcida declarada, continua no cargo. E, por favor, não diga que foi brincadeira: é melhor ser imbecil puro do que imbecil sem noção, que faz piada com doença grave, com mulheres grávidas cujos bebês são ameaçados pela hidrocefalia e pela incompetência do governo.
Enquanto Sua Excelência faz graça com a família dos outros, o governo americano estuda a possibilidade de alertar suas cidadãs grávidas para que não visitem o Brasil, por causa da zika (e da chikungunya, da dengue ─ sem falar de balas perdidas). Segundo o The New York Times, esta seria a primeira vez em que o Centro de Prevenção e Controle de Moléstias Infectocontagiosas, CDC, aconselharia mulheres grávidas a evitar uma região específica. O perigo é real: o médico Lyle Petersen, diretor de Doenças Transmissíveis por Mosquitos do CDC, já encontrou o vírus zika em quatro bebês brasileiros. Dois morreram no útero, e dois, ambos com microcefalia, logo após o parto. Segundo o jornal, há grandes probabilidades de que a recomendação de evitar o Brasil seja efetivada, e sem grande demora. A proximidade dos Jogos Olímpicos do Rio, com ampla capacidade de atração de turistas jovens, faz com que a decisão seja urgente.
E no exterior, sr. ministro Marcelo Castro, não se brinca com saúde pública.
Retrato do Brasil
A repercussão catastrófica da piadinha do sr. ministro levou-o a dizer que o governo liberou mais R$ 500 milhões para o combate à zika. Sua Excelência ainda não aprendeu o valor do silêncio: R$ 500 milhões é bem menos do que o governo liberou de Fundo Partidário, para que os políticos façam campanha eleitoral às nossas custas.
O importante não é a saúde, é escapar do impeachment.
Brasil 3×4
O orçamento proposto por Dilma previa R$ 311,3 milhões para o Fundo Partidário. Mas era importante agradar aos partidos: Dilma precisa do sugestivo número de 171 deputados para livrar-se do impeachment e, apesar da falta de dinheiro, apesar do déficit, apesar de contar com farta fonte de receita que não existe (a CPMF, que não foi aprovada e terá dificuldade em passar), aumentou a fatia de Suas Excelências para R$ 819,1 milhões ─ sim, estamos em ano eleitoral. Há ainda mais R$ 9,09 bilhões para que os 594 deputados e senadores usem a seu critério (em geral, pequenas obras onde têm votos). São R$ 15,3 milhões por parlamentar.
E o governo acha caríssima a vacina antizika: R$ 200 por pessoa.
Brasil para todos
Que ninguém imagine que o Fundo Partidário multiplicado sirva apenas para financiar a campanha dos políticos governistas. Não: na hora de provar o pudim, todos são comensais. O PT leva a maior parte, como maior bancada; o PSDB, o maior partido daquilo a que se convencionou chamar de oposição, fica com aproximadamente 80% da verba do PT, e um tiquinho a mais que o PMDB. Mas a distribuição é ampla: Levy Fidélix, capitão do nanico PRTB, já se queixou de que seu partido tinha de se manter com apenas R$ 100 mil mensais (isso, claro, antes do milagre da multiplicação de verbas). Em 2015, o PCO, que não ganhou nenhuma cadeira no Congresso, ganhou R$ 1,3 milhão do Fundo Partidário.
Brasil, sil, sil
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo a cassação do mandato do deputado federal Vander Loubet (PT-MS). A principal acusação é participar de irregularidades em contratos da Petrobras. Mas Loubet é mais que isso: fundador do PT no estado, sobrinho do ex-governador Zeca do PT, é acusado da prática de 110 crimes: 99 referentes a lavagem de dinheiro, 11 a corrupção.
Quantas pessoas têm ficha tão farta? E ele ainda está lá.
Brasil supremo
Nos Estados Unidos, um país reconhecidamente pobre, apenas um magistrado em todo o país tem direito a carro oficial: o presidente da Suprema Corte. O Brasil é mais liberal. E agora, com crise e tudo, somos informados de que o Supremo Tribunal Federal está comprando quatro automóveis Azera, da Hyundai, a R$ 155 mil cada. O STF já tem oito Azera. Cada ministro, portanto, terá seu carro oficial Azera, e um fica na sobra ─ sabe como é, de repente um auto precisa ir para a revisão e o ministro não vai ficar a pé, certo?
Nos Estados Unidos, os ministros podem ter carros bem mais luxuosos que o Hyundai Azera; se quiserem um Rolls-Royce, um Bugatti, um Mercedes Maybach, estará à sua disposição. Basta que o comprem com seu próprio dinheiro e ninguém tem nada com isso.
Brasil, frente e verso
Ninguém pode dizer, entretanto, que não há governo no país. Há: na última terça-feira, dia 12, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 13.248, que institui em todo o país o Dia do Tambor de Crioula, a ser comemorado no dia 18 de junho em todo o país, já a partir deste ano.
O Tambor de Crioula é uma festa folclórica de origem africana, com muita dança, tradicional no Maranhão ─ e só lá.






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