REINALDO AZEVEDO
O
governo enviou ao Congresso um Orçamento com um rombo de R$ 30,5
bilhões. Agora a presidente Dilma Rousseff busca o apoio do Parlamento
para aumentar impostos. Estão no alvo, entre outros, celulares e
bebidas. Daqui a pouco, só Lula, com seus R$ 27 milhões arrecadados em
palestras, poderá tomar um scotch legítimo. A gente vai ter de se
contentar com o pão duro da crise e a cachaça da melancolia. E aí vale
tudo. Nesta terça, a presidente chamou para um papinho Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), presidente da Câmara, seu desafeto de estimação.
Vocês já
leram a Lei Complementar 101, de 4 de maio de 2000? É a Lei de
Responsabilidade Fiscal. Ela existe para que os governos não fabriquem
déficits, não para que digam o tamanho do déficit que pretendem
fabricar.
A cada passo, a cada letra, a cada linha, a cada artigo, parágrafo e
inciso, o que se cobra é a transparência de dados e o equilíbrio entre
receita e despesa.
Assim, por
definição, é evidente que a entrega de um Orçamento que contemple um
rombo é, em si mesmo, uma ilegalidade. O governo decidiu não ser punido
pelo crime cometido. Avisou, de antemão, que vai cometer o crime com o
objetivo de escapar da punição.
Ora, a
obrigação de Dilma é entregar um Orçamento ao Congresso que diga de onde
sairão as receitas para as despesas previstas. Avisar que está
determinada a fabricar o rombo e jogar nas costas do Parlamento a
atribuição de fabricar receita — que terá de sair necessariamente da
sociedade — é mais uma das patranhas políticas de um governo que perdeu o
eixo.
Então o
governo federal vira um distribuidor de generosidades e depois cobra dos
congressistas que se virem para achar os recursos com os quais Dilma
vai gargantear a vocação social de sua gestão? Quem vai dar a cara ao
tapa?
O senador
Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, afirmou: “Hoje, estamos
assistindo, definitivamente, ao atestado de incompetência desse governo,
que gastou de forma perdulária, e não consegue fazer o essencial, que é
cortar gastos”.
Não dá para
transigir com isso. É evidente que acho que a oposição tem de recorrer
ao Supremo. Será certamente muito instrutivo. Vamos ver como o tribunal
entende a essência da Lei de Responsabilidade Fiscal, que pune tão
duramente os entes federados quando deixam de cumprir suas obrigações
com a União.
Se Renan
Calheiros (PMDB-AL) não vivesse agora seus dias de neoconvertido, só
teria uma coisa sensata a fazer: devolver ao governo a peça
orçamentária. Não, um governo não está obrigado a fabricar superávit.
Mas está, sim, obrigado, pela lei, a dizer de onde tirará os recursos
para as despesas que pretende realizar. É por isso que existe a Lei de
Responsabilidade Fiscal. Ou, então, que ela seja jogada no lixo.
A peça
enviada por Dilma ao Congresso é, obviamente, ilegal. Se o Parlamento
condescender com ela, estará entrando, também ele, no baguncismo do PT.
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