editorial do Estadão
A presidente Dilma Rousseff terá de renegar 12 anos de política
econômica petista, se quiser consertar as contas de governo, tirar o
País do sufoco e reencontrar o caminho do crescimento. Com ou sem
intenção, foi essa a principal mensagem transmitida pelo ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, na entrevista publicada terça-feira no Estado.
Diplomático tanto ao falar do Congresso quanto ao citar as práticas de
governo, ele foi muito claro, no entanto, ao destacar o caráter
estrutural dos principais problemas e ao mostrar como se acumularam. “O
aumento de receita dos anos 2000 foi em larga parte consumido pelo
aumento das despesas obrigatórias, que continuam crescendo”, disse o
ministro. Um dos maiores entraves à boa gestão das finanças públicas
brasileiras, a rigidez orçamentária, aumentou sensivelmente, portanto,
nesse período – e, é bom realçar o detalhe, continua aumentando.
“Temos de melhorar a qualidade da despesa”, acrescentou o ministro”,
repetindo uma promessa feita pela presidente Dilma Rousseff, ao assumir o
governo pela primeira vez, e em pouco tempo esquecida.
No meio de uma longa entrevista, essas poucas palavras sintetizaram a
pauta de qualquer programa razoavelmente ambicioso de reforma fiscal.
Não basta cortar esta ou aquela despesa, até porque, a curto prazo, os
itens mais fáceis de podar são os investimentos. Cortes desse tipo têm
servido, de tempos em tempos, para conter ou limitar a deterioração das
finanças públicas, mas apenas do ponto de vista contábil. Uma gestão
minimamente correta envolve mais que isso.
Além do equilíbrio fiscal, indispensável aos objetivos de longo prazo, é
preciso buscar o uso eficiente do dinheiro público. O governo petista
aumentou seguidamente a folha de salários, agravando a rigidez
orçamentária, sem cuidar da qualidade da mão de obra. Sua prioridade foi
empregar companheiros e aliados, loteando e aparelhando a
administração.
Temas como planejamento e política industrial apareceram de tempos em
tempos na retórica oficial. Resultados práticos: protecionismo
comercial, distribuição de favores, deterioração da infraestrutura,
emperramento da indústria, menor exportação de manufaturados e, enfim,
uma combinação devastadora de inflação, recessão e crise fiscal.
Não se pode atribuir a recessão, disse o ministro, à busca de um
superávit primário nas contas fiscais. É verdade. A recessão é
consequência dos erros acumulados durante anos, pelo menos desde o
segundo mandato do presidente Lula. Alguns, como lembrou o ministro, vêm
sendo corrigidos. Ele mencionou o ajuste dos preços relativos (de
combustíveis e de eletricidade, por exemplo) e o esforço para eliminar
subsídios e as transferências do Tesouro ao Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Nem tudo tem dado certo. A eliminação de subsídios e renúncias fiscais,
segundo ele, poderia resultar num alívio de R$ 25 bilhões. Seria mais
0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no ajuste fiscal. Mas para isso o
Executivo precisará de apoio político. Esse apoio, poderia ter dito o
ministro, nem os companheiros da presidente Dilma Rousseff têm
garantido. Tudo ficará mais fácil, afirmou, quando “os entendimentos se
alinharem”, isto é, quando o Executivo conseguir mobilizar suporte
suficiente.
Mas o ajuste efetivo, isto é, necessário aos objetivos de longo prazo, é
o estrutural. O ministro usou várias vezes essa palavra. Isso envolve
uma alteração profunda nos critérios. “A taxa interna de retorno das
concessões, que foi anunciada, teve receptividade perfeita no mercado”.
Traduzindo: o investidor privado precisa de condições atrativas para
aplicar seu capital em infraestrutura. Houve, aparentemente, um avanço
nessa área, mas é preciso ir muito além.
Não há fortes motivos para otimismo, por enquanto. A presidente Dilma
Rousseff ainda defende, por exemplo, a regra de conteúdo nacional nas
compras da Petrobrás – um convite à ineficiência e à corrupção. O
aprendizado pode ser muito lento. Pior para o País.
extraídaderota2014blogspot
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