BBC Brasil
Os escândalos de corrupção no Brasil têm alimentado temores que o país
possa retornar a um período de instabilidade, disse o jornal americano
"New York Times" nesta quinta-feira.
A reportagem de capa "Esforço anticorrupção lança a liderança do Brasil
em desordem" cita os efeitos da operação Lava Jato, da Polícia Federal,
sobre irregularidades na Petrobras. Dezenas de políticos e empresários
são investigados sob suspeita de participação no esquema de desvios na
estatal.
O diário diz que a operação é uma "cruzada que tem atingido uma
personalidade política atrás da outra, lançando o país em convulsão num
momento em que o humor nacional está azedando e a economia se recupera
de uma recessão dolorosa."
O "NYT" também cita manobras de "grandes segmentos políticos" que têm
sinalizado com a possibilidade de impeachment da presidente Dilma
Rousseff, e afirma que para muitos brasileiros as atuais incertezas
políticas são a pior crise desde o retorno à democracia, em 1985.
"Tal turbulência deveria ser coisa do passado para o Brasil", diz a reportagem.
"Analistas políticos dizem que, se (Dilma) Rousseff for retirada do
poder por seus adversários sem nenhuma evidência explícita de
irregularidades, a democracia do Brasil pode ser mais frágil do que o
que se pensava, o que leva a comparações a um período que muitos
brasileiros acreditavam terem superado."
Dilma foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras entre
2003 e 2010, quando acredita-se que parte do esquema de desvios na
estatal tenha sido realizado, mas nega conhecimento das irregularidades e
não foi citada por delatores que cooperam com a Lava Jato.
Há suspeita de que parte do dinheiro desviado da Petrobras possa ter sido usado no financiamento da campanha eleitoral dela.
A Lava Jato prendeu importantes empresários, como Marcelo Odebrecht,
presidente da empreiteira Odebrecht, e investiga os presidentes da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, também foi detido.
No entanto, diz o jornal, o Brasil "mudou consideravelmente" desde a
ditadura (1964-1985), deixando para trás uma economia confusa e abusos
de direitos humanos e que a atual crise política pode ser uma indicação
da maturidade das instituições do país.
"Alguns observadores dizem que a confusão política é um sinal de que as
instituições democráticas do Brasil estão, na verdade, se fortalecendo,
especialmente num sistema por muito tempo definido pela impunidade de
figuras importantes."
Além do cenário político, o jornal comenta a atual crise econômica - o
Banco Central prevê retração de mais de 1% neste ano - como um dos
motivos que levarão brasileiros a protestar contra a presidente no
domingo. A expectativa é de que os atos, que serão realizados por todo o
país, reúnam centenas de milhares de pessoas.
| Reprodução/The New York Times | ||





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