por Monica Baumgarten de Bolle FOLHA DE SÃO PAULO
O que esperar quando a presidente da República, assombrada pelos mais
baixos índices de aprovação da história, emparedada pelo Congresso e
atormentada pelos protestos agora explicitamente dirigidos contra ela,
resolve formular agenda para "avançar" selando pacto com um dos menos
confiáveis membros de sua coalizão?
Como avaliar a probabilidade de sucesso da chamada agenda positiva, que
inclui não menos do que 43 medidas? Medidas que abrangem temas
contenciosos como reforma trabalhista e previdenciária, além de uma
aderência mais rigorosa à Lei de Responsabilidade Fiscal?
Essas são algumas das perguntas que cercam a Agenda Brasil, suposta solução para os impasses que travaram o país.
Antes de prosseguir, adianto revelação nada surpreendente: algumas
propostas incluídas na Agenda Brasil seriam de extremo benefício para o
país. A instituição formal de limites para a dívida pública brasileira,
previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal e contemplada na Agenda
Brasil, é urgente.
A adoção de travas para o endividamento público não apenas melhoraria a
solidez das contas públicas à frente como impediria estripulias
tentadoras: os vultosos e sistemáticos repasses do Tesouro para o BNDES,
a farra das operações compromissadas, que, nos últimos anos, deixaram
de ser mero instrumento de gestão de liquidez do Banco Central e se
tornaram mecanismo de financiamento indireto do governo.
Contudo, a Agenda é ambiciosa.
Para restaurar a governabilidade, o pacto firmado entre Dilma e Renan
Calheiros prevê a aprovação pelo Congresso de ao menos 5 das 43 medidas.
São elas, segundo noticiou recentemente o "Valor Econômico": a reforma
do PIS/Cofins, os dois tributos mais complexos do emaranhado sistema
tributário brasileiro; a desvinculação das receitas para flexibilizar os
gastos, algo que se persegue há anos sem sucesso; a reoneração da folha
de pagamentos, medida rechaçada por Renan, hoje bandeira do Senado, o
último bastião de estabilidade, nos diz seu líder; a flexibilidade do
mercado de trabalho, ignorando os sindicatos, doa a quem doer, duela"¦
Deixe para lá. Como se isso não bastasse, o governo também vai lutar
pelo aumento da idade de aposentadoria para 65 anos.
Cada uma dessas medidas está há décadas sob discussão sem que se chegue a
um consenso. Afinal, os interesses dos sindicatos, dos aposentados, dos
desempregados, dos trabalhadores, do próprio governo chocam-se
frontalmente uns com os outros. Sem falar que algumas das medidas
contidas na Agenda Brasil teriam impacto de curto prazo possivelmente
negativo sobre uma economia já em frangalhos.
Portanto, a expectativa de que um governo fraco, com baixíssima
aprovação, enfrentando a ameaça de protestos e convulsões sociais, além
de um Congresso abertamente hostil, seja capaz de levar adiante essa
"solução" para a crise é difícil de sustentar.
Nos últimos dias, parece ter aumentado a percepção de que está nas mãos
da presidente Dilma dar direção ao país mostrando liderança e dialogando
com o Congresso. Ora, tal percepção se esborracha quando se toma a
Agenda Brasil por aquilo que de fato é: nada além de uma lista de boas
intenções desconectada da realidade política e social do país, amparada
em aliança para lá de frágil. Durma-se com mais um barulho desses.
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