editorial da Folha de São Paulo
Confrontados com questionamentos decorrentes da Operação Lava Jato,
políticos suspeitos de receber propina costumam ter na ponta da língua o
mesmo tipo de resposta, ainda que pertençam a partidos distintos e
sejam representados por advogados diferentes.
As quantias que receberam nada tinham de irregular; não passavam de
doações feitas a alguma candidatura eleitoral, de resto devidamente
declaradas à Justiça, que se encarregou de aprovar a prestação de
contas. Tudo dentro da lei.
Guardadas variações no tom, resumem-se nesses termos as alegações de
figuras como os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), que em 2010
disputou o governo de São Paulo pelo PT, e Edinho Silva (Comunicação
Social), tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) em
2014, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), o ex-senador Gim Argello
(PTB-DF) e o deputado federal Arthur Lira (PP-AL).
Seus nomes, ao lado de mais de uma dezena de políticos, foram listados
pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, entre os que, de uma forma
ou de outra, teriam se beneficiado do esquema de desvio de recursos da
Petrobras.
Incluídas no acordo de delação premiada que Pessoa fez com a
Procuradoria-Geral da República em troca de vantagens penais, as
afirmações do empresário, por força da lei, não bastam para embasar uma
sentença condenatória. Servem, no entanto, para auxiliar o andamento das
investigações.
As declarações de Pessoa ainda precisam ser comprovadas, mas salta aos
olhos o quanto elas fazem sentido do ponto de vista lógico. O fato de
uma contribuição ter sido feita de forma legal não anula a possibilidade
de que o dinheiro tenha sido obtido pelo doador a partir de esquemas
ilícitos.
Tampouco impede que o financiamento eleitoral seja a forma mais discreta
encontrada pelas partes para ocultar o que, no fundo, é simples
pagamento de propina.
Em relatórios enviados ao Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal
diz que, em alguns casos, dispõe de "elementos iniciais" a indicar que a
doação eleitoral foi utilizada como forma de corrupção.
A expressão consta de inquéritos nos quais se apura o envolvimento dos
senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Humberto Costa (PT-PE) e Valdir
Raupp (PMDB-RO). Todos negam irregularidades, e a própria PF ressalta a
necessidade de aprofundar as análises.
Que o faça depressa –inclusive para afastar a sensação de que as investigações sobre os políticos caminham muito devagar.
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