Estadão Conteúdo
A queda na aprovação da presidente Dilma Rousseff no Nordeste, região
que lhe garantiu as maiores votações proporcionais nas eleições
presidenciais, é um dos sinais mais eloquentes da crise política que
atinge o PT e sua principal representante. Na Bahia, por exemplo, reduto
petista, onde a presidente obteve 70% dos votos em 2014 enquanto o
candidato do PSDB, Aécio Neves, ficou com 30%, a rejeição à presidente
cresce à medida que aumenta o desemprego.
Sob efeitos da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, do recuo nos
investimentos do governo federal e de paralisia nos programas-vitrine do
governo PT, como o Minha Casa Minha Vida, o Nordeste perdeu 152 mil
vagas de emprego nos primeiros cinco meses do ano, a maior taxa de
demissões de todas as regiões.
Na Bahia, foram fechadas 16.493 vagas a mais do que todas as
contratações. Salvador é a região metropolitana com a maior taxa de
desemprego, segundo o IBGE, 11,3%. A segunda maior, também está no
Nordeste: Recife, com 8,5%. No País, o desemprego subiu para 6,7% em
maio.
Segundo pesquisa Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da
Indústria (CNI), a Região Nordeste, onde a petista tradicionalmente
tinha seus melhores índices de aprovação, foi onde a popularidade da
presidente mais caiu: de 18% em março para 13% em julho. No País, em
média, a aprovação ficou em 9% (quando era de 12% em março) e a
reprovação, em 68%.
O boom de empregos no Nordeste ocorreu no governo do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (2003-2010), mas os nordestinos ainda tiveram um
período próspero no primeiro governo de Dilma, entre 2011 e 2012, com
incremento na renda. No início deste segundo mandato da presidente,
porém, a região perdeu terreno, especialmente, em áreas intensivas em
mão de obra, como a construção.
Grandes obras de infraestrutura, como a ferrovia Oeste-Leste, "joia" do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e o estaleiro Enseada do
Paraguaçu - sociedade de Odebrecht, OAS, UTC, empresas investigadas pela
força-tarefa da Lava Jato, e o grupo japonês Kawasaki -, são
responsáveis por boa parte das demissões. A ferrovia demitiu 4 mil
trabalhadores e o estaleiro, mais de 5 mil operários.
Como consequência, corte de vagas em outros setores, como comércio e
serviços. O desemprego atinge até mesmo o Polo Industrial de Camaçari.
Inicialmente prevista para ser inaugurada este ano na área, a fábrica da
JAC Motors, por enquanto, está só na promessa.
Logo após o 1.º turno da eleição do ano passado, Dilma viajou para a
Bahia e subiu a escadaria da Basílica do Nosso Senhor do Bonfim para
agradecer pela votação recebida - 2 milhões de votos a mais do que o
adversário do PSDB. Ela chegou a se declarar "pardinha" e pediu uma vaga
no Olodum, um dos mais tradicionais blocos afros de Salvador.
"A Bahia e o Nordeste todo ajudaram a empurrar o carro ladeira acima,
mas a piloto nos jogou no precipício", afirma o presidente do Sindicato
dos Trabalhadores da Construção Pesada e Montagem Industrial da Bahia
(Sintepav), o deputado federal Bebeto Galvão (PSB). "A curva ascendente
do emprego estava relacionada com os investimentos públicos federais. A
crise é consequência do amadorismo com que a presidente conduziu a
economia", critica.
Desde que o PT chegou ao Palácio do Planalto, a Bahia nunca tinha
fechado mais vagas em maio do que aberto. Neste ano, a diferença ficou
negativa em 7.419 postos de trabalho. Quase 60% deles na construção
civil. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção na Bahia
(Sinduscon-BA), Carlos Henrique Passos, afirma que o setor vem demitindo
pela redução drástica no número de lançamentos e pela paralisia no
programa Minha Casa Minha Vida.
Na fase 1, ainda no governo Lula, foram 90 mil moradias construídas no
Estado. Na fase 2, de Dilma, foram 60 mil. A fase 3 ainda é uma
incógnita. As contratações para as famílias mais pobres, com subsídio de
até 95% do imóvel, pararam. Os atrasos no pagamento das obras pelo
governo federal complicaram a vida das empresas, que passaram a demitir
os funcionários.
"As pessoas colocaram o pé no freio. Percebemos mudanças de consumo de
marcas premium para intermediárias e dessas para populares", afirma João
Cláudio Nunes, presidente da Associação Baiana de Supermercados (Abase)
e do grupo Redemix. O segmento esperava crescer até 3% acima da
inflação no início do ano; agora, a meta é fechar 2015 com 1% de
expansão.
extraídaderota2014blogspot





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