por Denis Lerrer Rosenfield O Estado de São Paulo
O PT está se comportando como avestruz. Pensa que escondendo a cabeça
ninguém mais verá o resto do corpo. Os escândalos se sucedem, o mensalão
passa para o petrolão e o partido insiste em frisar sua virgindade
ética, como se tudo fosse uma grande artimanha das oposições. Ainda
assim, deveria ser bem explicado a que oposição seus líderes se referem,
pois, se ela existe, tem sido incapaz de conduzir qualquer coisa. Segue
a reboque das ruas, que nas últimas semanas se tornaram as grandes
protagonistas do País.
Vamos convir que a posição de vítima assumida pelo partido não tem
nenhuma chance de vingar. O PT está no quarto mandato presidencial e é,
portanto, responsável por tudo o que nele aconteceu e acontece. De nada
adianta continuar culpando o ex-presidente FHC de todo mal que nos
aflige, pois se esse argumento for levado a sério ele terminará sendo
responsável por qualquer unha encravada. O que, sim, tem faltado ao
governo e seu partido principal é o humilde reconhecimento de seus
erros, algo que parece situar-se além da soberba reinante.
Se o País vive, do ponto de vista governamental e partidário, uma
espécie de desmoronamento ético, isso se deve ao aparelhamento da
máquina estatal, tornada mero instrumento de consecução de fins
partidários. O discurso oficial é contra a corrupção, quando a prática
partidária consiste em acobertá-la. O PT nem consegue punir seus
envolvidos tanto no mensalão quanto no petrolão. Uns são considerados
"guerreiros do povo brasileiro", outros ainda não o são por não terem
sido condenados.
O atual tesoureiro continua protegido e a Petrobrás segue blindada na
verdadeira apuração de suas responsabilidades. Tudo é um grande jogo de
cena. Acontece que essa cena não está mais "colando", não gera nenhuma
adesão dos cidadãos. O PT caiu na lama e não consegue sequer se
levantar.
Em contrapartida, o País vive um despertar ético, demonstrando real
preocupação com suas instituições. As manifestações de 15 de março foram
uma efetiva tomada de consciência, com as ruas plenas de indignação,
independentemente de faixa etária, classe social e gênero. O governo e
seu partido não conseguem mais tapar o sol com a peneira. Não há
marketing que resolva essa situação. Os mágicos ficaram sem mágica!
Não tem o menor cabimento o PT reclamar de uma grande orquestração da
mídia, como se fosse ela a responsável pelas grandes manifestações de
rua, pelos escândalos da Petrobrás, pela inflação e pelo PIB zero.
Jornais, revistas e meios de comunicação em geral, em sua diversidade e
pluralidade, retratam o que está acontecendo.
O que pretendem os dirigentes partidários? Que as ruas repletas de gente
não sejam filmadas, retratadas e descritas? Que o PIB zero não seja
comentado? Que a inflação que acomete os cidadãos seja desconsiderada,
quando ela é sentida diariamente nos supermercados? Que a corrupção na
Petrobrás não seja noticiada? Que o trabalho da Justiça e do Ministério
Público seja denegrido?
A política petista de feroz crítica aos meios de comunicação consiste na
tentativa de matar o mensageiro para que a mensagem não seja
transmitida. Em vez de o partido enfrentar seus reais problemas, termina
apelando para seu arsenal ideológico de ideias antiquadas e
ultrapassadas, desta feita a de "controle social da mídia" ou
"democratização dos meios de comunicação".
Para falar claro: trata-se da tentativa de restabelecer a censura no
País, agora nos moldes do que já é feito na Venezuela, na Bolívia, na
Argentina e no Equador, nessa via comunista, soviética, agora denominada
"socialismo do século 21", como se assim a proposta autoritária se
tornasse mais palatável! A moralidade é estropiada em nome de uma
"superioridade moral do socialismo".
O PT não consegue nem se entender no que diz respeito ao seu apoio ao
governo Dilma. A austeridade fiscal que está sendo introduzida não é a
responsável pela inflação, pelo PIB zero, pela desvalorização do real e
pelos altos juros. Estes nada mais são que consequências das políticas
econômicas conduzidas pelo governo Dilma e pelo segundo mandato do
governo Lula. São, reitero, meras consequências. O ministro da Fazenda,
Joaquim Levy, nada mais está fazendo que tentar corrigir o descalabro
reinante, que é produto do que foi feito até aqui.
Agora, que o partido se insurja contra o ministro e, indiretamente,
contra a presidente, em nome das políticas desastradas que nos levaram
até esta situação, é um manifesto contrassenso. Caberia, isso sim,
apoiar a mudança de rumo, em nome da governabilidade e, sobretudo, do
País, que é maior do que qualquer partido e que a soma de todos. Como
pode a presidente exigir o apoio incondicional do PMDB quando o seu
próprio partido é o maior opositor de sua política atual?
A proposta de alguns setores partidários de radicalização do processo
político, por meio de uma nova aliança com os movimentos ditos sociais, é
de uma grande irresponsabilidade. Movimentos como o MST são expressões
de um projeto político de tipo marxista, para instalar no País um regime
totalitário de tipo socialista.
Trata-se, no caso, de uma organização de tipo leninista, que tem vários
braços, como os Sem-Teto, as Mulheres Campesinas, os Atingidos pelas
Barragens, os Pequenos Agricultores e a Via Campesina. Todos obedecem a
uma mesma estratégia e ao mesmo comando, tendo na Venezuela e em Cuba
seus maiores exemplos. A faceta social é mera roupagem.
Insistir nessa via significaria lançar o País na ingovernabilidade e
numa eventual crise institucional. Quando Lula chamou o "exército do
Stédile" às ruas, ele conclamou essa milícia a se preparar. Permaneceram
ele e os seus apoiadores cegos e surdos aos clamores populares.
No dia 15 de março, um dos seus dizeres era: "A rua brasileira jamais
será vermelha!". Como bem expressaram os manifestantes em suas roupas:
"Ela é e sempre será verde-amarela!".
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014





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