por Aécio Neves Folha de São Paulo
Muita gente tem se perguntado qual é a crise mais grave, a econômica ou a política?
Do meu ponto de vista, a que agrava todas as demais é a crise de
confiança que se instalou entre a população e o governo. Ela é tão
perceptível que não é preciso sequer esperar pelos resultados das
pesquisas para constatá-la.
Ao contrário do que muitos pensam, confiança não é apenas um valor simbólico.
É elemento concreto, matéria prima essencial aos governos, especialmente
em época de crise. Quando a população confia em um governo, acredita
nos seus diagnósticos e compromissos. Quando confiam em um governo,
setores produtivos investem sem medo.
A verdade é que o governo está pagando um alto preço pelas mentiras que
vêm sendo ditas à população e que ficaram explicitadas de forma
irreversível desde a campanha eleitoral do ano passado.
Nela, o governismo ultrapassou os limites aceitáveis da luta política,
caluniou adversários e prometeu o que sabia que não ia fazer. Sem
compromisso verdadeiro com a nação, não hesitou em dividir o país,
tentando nos jogar uns contra os outros, com o discurso do "nós" contra
"eles", pobres contra ricos, Nordeste contra Sudeste.
A constatação das manipulações feitas pela campanha do PT gerou, entre
milhões de brasileiros, forte ressentimento e o sentimento de que a
população foi vítima de um verdadeiro estelionato eleitoral.
Essa percepção se deu de forma muito rápida e comprometeu a
credibilidade de uma gestão que já nasceu velha, sem capacidade de
propor saídas para os problemas que criou e legou a si mesma.
Na campanha, a candidata oficial não admitia sequer a existência de
crise. Agora, se escora nela. A necessidade de ajuste era considerada
uma peça de ficção engendrada pelas oposições. A imprensa revelou que
parte das medidas do ajuste proposto pelo governo já estava decidida
durante a campanha.
Inflação sob controle? Chegamos à previsão de 8%.
Os "neoliberais" iriam subir os juros? Estão aí as novas taxas. Retomada
do crescimento? Mais um pibinho. Energia mais barata? Tarifaço. Não
iria alterar benefícios dos trabalhadores, "nem que a vaca tussa"? Deu
no que deu... Pátria educadora? Estão aí os cortes de orçamento da
educação, as restrições ao Fies, os problemas no Pronatec.
A reação da população brasileira a todas as mentiras e manipulações
feitas pelo PT precisa ser saudada como sinal do amadurecimento da
democracia brasileira.
Há cada vez menos espaço para o marketing político de ocasião,
oportunista, que está a serviço exclusivo da vitória a qualquer custo.
O barulho que tira o sono do governo não é o dos panelaços. É o da consciência desperta dos brasileiros.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014





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