por João Bosco Rabello ESTADO DE SÃO PAULO
Mais grave que a crise – moral, política e econômica -, vivida pelo país
têm sido as reações verbais do ex-presidente Lula e de sua sucessora,
Dilma Rousseff. Além de indicar desorientação do governo e de seu
partido, o PT, ferem o senso comum e agridem a realidade, o que não
ajuda a encontrar saídas para o apagão político e administrativo.
Lula recorre ao mesmo expediente que usou em 2005 para evitar um processo deimpeachment, àquela
altura legítimo diante da confissão pública do publicitário Duda
Mendonça de que recebera o pagamento das campanhas que fizera pelo
partido em conta no exterior, em flagrante caixa dois, confirmando o
enredo do mensalão.
Lula intimidou a oposição e o estabilishment ameaçando
“pôr o povo nas ruas”, valendo-se do simbolismo ainda latente da
eleição de um operário para a presidência da República. Naquele momento,
o temor de que o discurso das elites contra os mais necessitados, ao
contrário de hoje, poderia encontrar combustão política.
Hoje o ex-presidente, nas quatro paredes de uma instituição que já
honrou a categoria dos jornalistas, lidera um ato de desagravo à
Petrobras, com apoio de “intelectuais de esquerda” velhos beneficiários
dos patrocínios da empresa e provavelmente já nostálgicos da perda desse
canal financiador.
Nas ruas, outrora monopólio do PT, uma tropa de militantes distribuindo
pancadas em quem se arvorasse a protestar contra o governo. Tropa que o
ex-presidente, de dentro da tricnheira improvisada e protegida, prometeu
transformar em exército de sem terras caso as prometidas manifestações
peloimpeachment de Dilma se materializem.
A anunciada ação do “exército do Stédile” tinha sua avant première, enquanto
o comandante dessa mílicia financiada para invadir propriedades rurais,
ao seu lado, confirmava a disposição verbalizada pelo ex-presidente da
República. É o que restou ao PT, dado o grau hierárquico no partido
daquele que vocalizava a ameaça.
Na sequencia, o presidente do PT do Rio, o indefectível Washington
Quaquá, reberverava o discurso de Lula mostrando-se pronto para “ir para
a poprrada”, com quem nos provocar. E por provocação, leia-se,
discordar do PT e exercer livremente o direito constitucional de
protestar pacificamente.
Sem entrar no pormenor da qualidade do porta-voz carioca do partido, é
de se notar a indigência de líderes no PT. Se é com eles que o partido
esperar encontrar saídas para o calvário que criou para si mesmo,
pode-se prever que, se resgate houver para a legenda, será antecedida
ainda de longa penúria e exposição pública negativa.
De outro lado, a presidente Dilma Rousseff parece ter perdido o norte
político de vez. Conseguiu em uma só declaração exibir grau de alienação
preocupante. Justificou o rebaixamento da nota de crédito da Petrobras
como medida de uma agência de risco que não sabe o que se passa na
empresa – o que nem as paredes desconhecem.
E emendou com o otimismo de um “napoleão de hospício”: “Tenho certeza de
que a Petrobras vai se recuperar disso sem maiores consequências”. É
uma afirmação indiferente às consequências já em curso, que tornam a
empresa a petroleira mais endividada do mundo, excluída das agendas de
investidores, não só pelo descrédito, mas por imposição das instituições
reguladoras dos mercados internacionais.
Em outra ação, o PT trabalha, em parceria com o governo, para politizar o
novo enredo criminoso protagonizado pelo partido, com um discurso que
iguala os acontecimentos na Petrobras, desde 2003, a períodos
anteriores, em que a corrupção era pontual, não sistêmica. Não há
esperança em relação às consequências jurídicas do processo judicial em
curso, mas o partido insiste em sobreviver tentando terceirizar
responsabilidades, aparentemente alienado de uma realidade que já o
corrói junto à população.
Ao mesmo tempo, o governo opera uma complexa versão de acordos de
leniência, polêmica no mundo jurídico, cujo objetivo central é o de
evitar que empreiteiros presos há meses, e sem perspectiva de deixar o
cárcere tão cedo, optem pelo regime da delação premiada, a exemplo do
que outros já o fizeram.
Entre esses, o que mais parece assustar o PT é o empresário Ricardo
Pessoa, da UTC, pelo potencial de fazer chegar ao governo Lula o
escândalo na Petrobras. Do beco sem saída em que se encontra, o PT tece
um labirinto para obstruir o processo legal, instalar o diversionismo e
tentar escapar das consequências judiciais e políticas do que produziu,
descuidado do principal – o dano eleitoral.
De um lado, Lula convoca milícias, verdadeiros exércitos paralelos, para
a luta contra as elites, o que já lhe vale a prévia responsabilidade
pelo que isso vier a produzir. De outro, a presidente Dilma mantém o
discurso de céu de brigadeiro, traduzindo o ajuste fiscal como um
estágio para um novo ciclo de crescimento e justiça social.
E fica combinado assim.
MATERIAEXTRAÍDADEROTA2014
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