Com Blog Rodrigo Constantino - Veja
Lembram de quando os petistas elogiavam a revista britânica The Economist?
Foi quando ela estampou em sua capa um Cristo Redentor alçando voo, no
auge da euforia com o país. Na época, o PT ignorou que a revista era um
símbolo do capitalismo de livre mercado, e passou a citá-la como prova
do acerto de suas medidas. Errava a revista, claro, ao não perceber que a
euforia era insustentável e tinha pilares de areia. Mas ficou na
memória a adesão petista às opiniões da respeitada revista de economia.
Desde então o caso de amor foi perdendo força, ficando cada vez mais
gelado, à medida que a revista apontava as falhas do governo e do modelo
desenvolvimentista de Dilma. Caso não houvesse mudança de rumo,
alertava a revista, a situação ficaria feia à frente. Até a cabeça do
ministro Guido Mantega ela chegou a pedir publicamente, e depois, no
típico humor britânico, escreveu um editorial sarcástico defendendo sua
manutenção, por compreender que sua pressão surtiria efeito contrário no
país.
Pois bem: o Brasil volta às capas da The Economist,
e dessa vez como um “atoleiro”. A “estrela” latino-americana se meteu
em verdadeira enrascada, não vista desde os anos 1990. O quadro rosado
que Dilma pintou durante a campanha era puro engodo: pleno-emprego,
salários subindo e benefícios sociais garantidos, algo que seria
ameaçado apenas se a oposição “neoliberal” vencesse. Os brasileiros se
dão conta agora, diz a revista, de que compraram uma promessa furada.
Sem rodeios, o editorial fulmina: a economia brasileira está numa grande
bagunça, mais do que o governo admite. Uma prolongada recessão se
avizinha, a inflação alta espreme o salário dos trabalhadores e os
investimentos, já minguados, devem cair ainda mais. O escândalo de
corrupção na Petrobras não poderia ficar de fora da lista, naturalmente.
A revista menciona o risco de a economia travar por conta das
empreiteiras envolvidas nele. O dólar já se valorizou mais de 30% em
relação ao real no ano, como consequência dessa fragilidade.
Mesmo com uma liderança firme seria difícil sair do atoleiro, segundo a The Economist.
Não é o caso. Dilma é fraca, ganhou a eleição por margem estreita, não
sabe negociar com o Congresso. Sua base parlamentar está ruindo diante
de seus olhos. Sua taxa de aprovação está em queda livre, enquanto a de
rejeição só cresce. O país precisa ir em uma direção totalmente oposta a
que vinha no primeiro mandato de Dilma, mas quem acredita que ela mesma
será capaz de tal reversão?
Os problemas brasileiros foram produzidos em casa, diz a revista, por
erros do próprio governo. O capitalismo de estado, somado a uma
irresponsabilidade fiscal, plantou as sementes dos atuais males que nos
assolam. A falta de transparência nas contas públicas piorou tudo, assim
como as políticas intervencionistas que desorganizaram a indústria.
Escolher Joaquim Levy para a Fazenda foi um mérito de Dilma, a revista
admite. Mas não será uma tarefa fácil para o doutor de Chicago, até
porque ele não goza do apoio nem dos demais petistas.
O Brasil corre grandes riscos, portanto. A possibilidade de perda do
grau de investimento, como já ocorreu com a Petrobras pela Moody’s, é
uma espada constante sobre nossa cabeça. Se as manifestações de 2013
retomarem com força, a revista acredita que Dilma pode estar perdida.
Como prêmio de consolação, a reportagem termina lembrando que a situação
da Rússia é ainda pior dentro dos BRICs. Só não sei como isso pode
acalmar o povo brasileiro…
MATÉRIAEXTRAÍDADEROTA2014
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