, editorial do Estadão
Começa a tomar forma a articulação, estimulada explicitamente pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para aumentar a pressão dos
ditos "movimentos sociais" sobre o governo de Dilma ousseff. A
mobilização de uma "frente nacional de esquerda", conforme noticiada
pelo Estado, tem como objetivo denunciar o que esses movimentos veem
como um avanço conservador dentro do Congresso e do próprio Palácio do
Planalto. Assim, Lula recorre às alas mais predatórias dos chamados
"progressistas" para tentar ditar a agenda de Dilma e da base aliada.
O que une esses grupos é um solene desprezo pela lei e pelas
instituições que garantem a democracia, pois estas são vistas como
obstáculos "burgueses" à realização de suas utopias autoritárias.
Estão lá, por exemplo, as alas mais radicais do PT. Uma delas, a
Militância Socialista, manifestou durante as últimas eleições seu
desencanto por ter chegado à conclusão de que o governo de Dilma é
"refém das forças do atraso", e propondo, portanto, "radicalizar a
democracia participativa em todas as esferas" - senha para a desmontagem
da democracia representativa e para o aparelhamento total do Estado. A
Militância Socialista defende que haja "unidade" entre os movimentos de
esquerda para conter o "golpismo" contra Dilma e, principalmente, contra
o PT - que, segundo essa corrente, deve disputar a "hegemonia na
sociedade".
É esse, em outras palavras, o discurso que Lula vem fazendo nos últimos
dias, em diversos pronunciamentos para os militantes petistas. Em um dos
mais recentes, o ex-presidente disse que, se o PT quiser vencer a
eleição presidencial em 2018 - em que Lula aparece como candidato
natural do partido -, o atual governo terá de "reorganizar a base de
alianças com setores mais à esquerda da sociedade".
Portanto, é com interesse puramente eleitoral, como é de seu feitio, que
Lula demarca seu território, tentando cooptar grupos esquerdistas para,
se e quando lhe for conveniente, contrapor-se a Dilma. Não é por outra
razão que o ex-presidente citou até o PSOL e o PSTU, partidos radicais
formados por dissidentes petistas.
É sintomático, portanto, que, à primeira reunião em que se discutiu a
formação da tal "frente de esquerda", em São Paulo, tenham comparecido
representantes do PSTU e do PSOL. Lula sabe que são partidos que não
precisam de estímulo para infernizar a vida de Dilma - e, por tabela, a
do País.
Mas é na presença de diversos grupos de baderneiros em geral que a
"frente de esquerda" diz a que veio. Lá estão, entre outros, o Movimento
dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), a Central de Movimentos Populares, o
Levante Popular da Juventude, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, a
Via Campesina e a Conlutas.
À frente desse sopão esquerdista está o já notório Guilherme Boulos,
líder do MTST, talvez o principal nome da nova safra de arruaceiros que,
graças à tibieza de alguns administradores públicos, conseguiram
transformar a violência em um modo natural de fazer política.
Boulos foi o sujeito que, de uma só vez, obrigou a presidente Dilma
Rousseff, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e a Câmara de
Vereadores a ceder às suas chantagens. Para isso, bastaram seu poder de
mobilizar algumas centenas de pessoas e uma estratégia de guerrilha que
explorou a falta de pulso do poder público para fazer valer o que está
escrito na lei contra quem invade terrenos. Em vez de ser punido, Boulos
foi tratado como interlocutor legítimo para discutir reivindicações
populares. Transformou a população em refém, desmoralizou as
instituições do Estado e não pagou o preço da sua ousadia.
Não admira que a iniciativa de formar a "frente de esquerda" tenha
partido formalmente de Boulos. Mas seria ingenuidade supor que seja ele o
real responsável por essa mobilização. Por trás de Boulos, como já
ficou claro, está Lula - que perdeu espaço dentro do governo e,
preocupado com a perspectiva de ser derrotado em 2018, busca ter cacife
para obrigar Dilma a fazer o que ele quer, nem que seja na marra.
fonte rota2014
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