por José Roberto de Toledo
O melhor da posse de Dilma Rousseff é que quem ganhou levou. Como notou o
jornalista Fernando Rodrigues, já faz um século desde a última vez que o
Brasil teve sete presidentes eleitos direta e consecutivamente e que
foram empossados. Como, à época, mulheres não votavam, nunca o País teve
um período democrático tão longo e duradouro quanto hoje. Necessário,
mas insuficiente.
O ciclo de desenvolvimento via expansão do mercado interno e inclusão
social parece ter se esgotado. Mais do mesmo já não basta. Insistir nas
mesmas ações esperando resultados diferentes é definição de loucura, não
de coerência ideológica. A presidente rendeu-se às circunstâncias e
mudou porque precisou. Cercou-se do time que imagina ser necessário
para: 1) completar o mandato, 2) conseguir aprovar o arroz-com-feijão no
Congresso.
O possível ela fez agora; o impossível, sabe-se lá quando. Vai depender
do desempenho da nova equipe econômica e do tempo que os cortes a serem
executados levarão para surtir efeito positivo - isso, pressupondo-se
que o efeito será positivo. Novo ministro do Planejamento, Nelson
Barbosa disse esperar uma recuperação rápida após o ajuste fiscal: "A
economia brasileira sempre mostrou muita capacidade de adequação às
mudanças".
Vai aí uma dose de otimismo temperada por generosa pitada de desejo.
Quanto mais demorar para a economia mostrar recuperação, maior será a
pressão dentro do governo e do PT para a retomada do modelo antigo. Por
isso, a dupla Levy-Barbosa não corre uma maratona, nem mesmo uma São
Silvestre. No máximo, uns 800 metros com barreiras, muitas barreiras - e
fogo-amigo. Dilma fixou o deadline no seu discurso de posse: "o
impossível se faz agora".
Milagre mesmo vai ser o novo ministério escapar de noticiário que inclua
as palavras investigação, denúncia e suspeição. Nada pessoal. É a ordem
natural das coisas quando o cargo de ministro é mero contrapeso a apoio
político-partidário. Quem é nomeado nesses termos está ali para atender
aos seus correligionários - e, se der, ao público. Nessa ordem. Tem
sido assim de Sarney a Dilma, passando por Collor, Itamar, FHC e Lula.
Como a única coisa que se aprende da história é que não se aprende com a
história (apud Hegel), um presidente democrático após o outro tem
formado ministérios que foram uma sucessão de decepções. A única
vantagem da nova equipe montada por Dilma é que as expectativas (salvo
as depositadas na equipe econômica) são tão baixas que qualquer coisa
positiva virá a ser surpresa.
As expectativas são proporcionais ao cofre de cada pasta. A área
econômica corta a maior fatia do bolo. Em 2014, foram R$ 622 bilhões em
refinanciamento da dívida interna e R$ 278 bilhões em serviço dessa
dívida. Esses R$ 900 bi são proporcionais à taxa de juros e à aposta do
mercado sobre a capacidade do governo de pagar a dívida. A conta saiu
20% mais cara no ano passado do que em 2013, já descontada a inflação.
Sucesso será diminuí-la.
A segunda maior fatia está no prato do Ministério da Previdência, a ser
comandado pelo petista Carlos Gabas, um servidor de carreira da área.
Foram R$ 391 bilhões em 2014, mas em dinheiro carimbado: pagamento de
pensões, aposentadorias e benefícios fixados em lei. Tem pouca margem de
manobra, fora uma reforma previdenciária que precisaria passar pelo
Congresso.
As 3ª, 4ª e 5ª maiores fatias são quase equivalentes e estarão sob a
guarda do PROS (Cid Gomes, na Educação), do PDT (Manoel Dias, no
Trabalho) e do PT (Jaques Wagner, na Defesa). Juntos, gastaram cerca de
R$ 200 bilhões em 2014. Na Educação, a mina de ouro foram os R$ 13,5 bi
para financiar alunos em faculdades particulares - já na mira de cortes
da nova equipe econômica.
Depois vêm Saúde (PT), Cidades (foi para Gilberto Kassab, do PSD) e
Transportes (PR). Dos top 10, o PMDB ficou só com o 9º e o 10º: Minas e
Energia e Agricultura. Isso já foi um milagre.
fonterota2014
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