Jornalista Andrade Junior

domingo, 11 de janeiro de 2015

Capacitando para a revolução

Escrito por Saulo de Tarso Manriquez 




Dentre as palavras da moda no meio educacional, duas merecem destaque: formação e capacitação. É um tal de forma para lá e capacita para cá sem fim. Quem olha de fora pensa que tudo coopera para o bem da Nação e para um sistema de ensino - público ou privado - de excelência. Porém, é preciso ter cautela e tentar olhar para o que acontece por trás do cenário róseo vendido, mormente para a educação pública.
Formar e capacitar em quê? Para quê? A princípio tais verbos são neutros, não sendo, portanto, lícito extrair daí, de antemão, um juízo de valor laudatório ou depreciativo. De qualquer forma, quando se pensa em tais verbos no âmbito da educação, é quase natural se pressupor que são empregados para fortalecer e melhorar a atuação profissional dos educadores, com vistas a obter melhores pedagogos, professores de português, história, geografia, matemática, etc., mas será que tal pressuposição é correta, será que é isso que acontece na prática?
Com a proximidade do Ano Novo, decidi fazer uma faxina na minha papelada, organizar meus livros e meus armários. Eis que de repente, no meio da bagunça, encontrei um jornalzinho de dezembro de 2012, publicado pela APP-Sindicato - "Sindicato dos(as)Trabalhadores(as) em Educação Pública do Estado do PR".  No jornal li que desde o XI Congresso da APP-Sindicato, conforme a própria entidade sugere, tem se procurado resgatar na seara sindical o estudo sobre pensadores revolucionários, tais como Lênin e Rosa Luxemburgo. Nada que cause espécie, haja vista que a maioria dos sindicatos, ao invés de se dedicarem pura e simplesmente à defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores colocam-se a serviço de um projeto revolucionário de largo alcance. Assim, seria inócuo gastar tinta para dizer a obviedade de que sindicalistas são doutrinados e doutrinam-se mutuamente para promover delírios totalitários. O que aqui se pretende destacar é o fato de tais estudos terem sido inseridos na pauta da formação, a ser dada por meio de cursos, cursos de formação, não só para sindicalistas, mas para todos os que trabalham com educação.
Os cursos de formação e atualização de professores não são nenhuma novidade (v.g. a finada Universidade do Professor, que funcionava em Faxinal do Céu, Pinhão-PR). O que o chama a atenção é o que neles é tem sido ministrado desde, pelo menos, 2010.
Em 2010, em 2011 e em 2012 a APP-Sindicato realizou cursos de formação[1], que evidenciam uma clara tentativa de politizar a educação, tornando-a um instrumento a serviço da revolução socialista.  
Conforme é possível ler no jornalzinho (cf. foto), ao longo de 2012, a Secretaria de Formação Política Sindical da APP procurou reiterar "a base teórica que orienta as lutas da entidade e buscou aprofundar a reflexão ao retomar o estudo dos principais intelectuais e líderes revolucionários articulado no XI Congresso da APP-Sindicato". Para tanto, criou-se um curso de Formação (com "F" maiúsculo mesmo) voltado para análise teórico-metodológica de Vladimir Lênin e da ideia de revolução permanente; em suma: capacitação para ser leninista e ou trotksista ("e ou", pois sob a égide do doublethinking tudo vale).  Tais temas, vale dizer, fizeram parte do Curso I, ou seja, havia outros módulos dentro do Curso de Formação de 2012:  Curso II - Educação Sindical; Curso III - Formação em Gênero, Etnia e Diversidade Sexual; Curso IV - Formação Sindical para a Juventude; e Curso V - Cinema Militante[2]. A formação revolucionária, como se vê, é ampla.
Olhando atentamente para os temas abordados nos cursos, é possível perceber que há, de 2010 a 2012, um crescente aprofundamento no discurso ideológico empregado.
Esses cursos de formação fazem parte da Escola de Formação da APP e foram e provavelmente continuarão sendo conduzidos por meio de uma parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), parceria essa que, por si só, indica que os cursos transcendem a esfera sindical e são projetados para atingir todas as pessoas que se dedicam ao ensino. Não são cursos para a formação de sindicalistas.
Doravante, quando alguém lhe disser que está fazendo ou irá fazer um curso de formação promovido pela APP-Sindicato/UFPR você já sabe que o indivíduo está sendo ou será treinado não para educar melhor as próximas gerações, preparando-as para a vida profissional, para a pesquisa, para a liberdade e para a responsabilidade, mas sim que está sendo ou será treinado para fazer da sala de aula um palanque, do quadro-negro um panfleto e, dos filhos do Pátria, soldadinhos da revolução continental.
E ainda há quem diga que não há doutrinação esquerdista nas escolas...

Notas:
[1] O materiais dos cursos podem ser visualizados a partir dos seguintes hiperlinks:
 a) 2010 - Curso de Formação: Eixo I - Caderno 1 - Escola e Desigualdade Social;Curso de Formação: Eixo I - Caderno 2 - Capitalismo, Estado e Desigualdade: Impactos na Política Educacional; Curso de Formação: Eixo I - Caderno 3 - A Desigualdade Educacional por Dentro da Escola;

b) 2011 -  Curso de Formação: Eixo II - Caderno 1 - As concepções teóricas, ideológicas e pedagógicas da sociedade e da escola e seus impactos na gestão do Estado; Curso de Formação: Eixo II - Caderno 2 - A Formação do/a Dirigente e a Gestão Democrática - As elaborações e concepções teóricas e pedagógicas para a sociedade e escola no campo da tradição Marxista; Curso de Formação: Eixo II - Caderno 3 - O Modernismo e o Pós Modernismo no contexto do mundo do trabalho e da educação;

c) 2012 - Curso de Formação: Eixo II - Formação Sindical - Caderno 1 - Como funciona a sociedade capitalista | Processo de Consciência da Classe Trabalhadora.
 
[2] A agenda do curso de 2012 pode ser visualizada aqui: http://www.appsindicato.org.br/include/paginas/area-editavel.aspx?codigo=11

Saulo de Tarso Manriquez é mestre em Direito pela PUC-PR.

fonte midiasemmascara

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