Elos perversos
Gen Ref Augusto Fernandes dos Santos
“ Não há corrente mais forte do que seu elo mais fraco”
A nação brasileira , especialmente o povo gaúcho, pranteia a morte de mais de duas centenas de jovens estudantes que, na madrugada de 27 de janeiro deste ano, comemoravam em uma casa noturna a aprovação em diferentes exames vestibulares realizados em Santa Maria/ RS, cidade conhecida no sul do país por abrigar um centro universitário de excelência . Aqueles jovens celebravam a vida por triunfos e conquistas e encontraram a morte súbita e inclemente.
Por ter vivido na cidade uma quadra inesquecível
de minha vida profissional, associo-me a imensa tristeza e desabafo ao
colocar no papel a revolta e a perplexidade que me assaltam, em ser
obrigado a ouvir pífias declarações de diversas “autoridades” e de
ter de assistir a mais uma tragédia, entre tantas, que ocorrem em
nosso país, consequência da maneira permissiva e negligente em nossa
cultura, de encaminhar e resolver questões substantivas, com a
irresponsabilidade e a omissão do nosso conhecido “jeitinho” . A nação brasileira , especialmente o povo gaúcho, pranteia a morte de mais de duas centenas de jovens estudantes que, na madrugada de 27 de janeiro deste ano, comemoravam em uma casa noturna a aprovação em diferentes exames vestibulares realizados em Santa Maria/ RS, cidade conhecida no sul do país por abrigar um centro universitário de excelência . Aqueles jovens celebravam a vida por triunfos e conquistas e encontraram a morte súbita e inclemente.
Fica no ar, entretanto, uma pergunta que precisa ser respondida: Quem inspecionou o local, e autorizou o funcionamento daquela arapuca apelidada de boate ? Não precisa ser especialista nem técnico experiente, para verificar a inadequação do indigitado local em abrigar uma pequena multidão - de mil ou mil e quinhentos indivíduos- numa área restrita com somente uma porta de acesso. Quem forneceu o ALVARÁ de funcionamento ? Pelo que se ouviu, “tudo estava de acordo com as leis e as normas em vigor e será devidamente apurado”.
As ridículas declarações dos integrantes da cadeia de responsáveis ( diretos e indiretos) tangenciam a ironia e o sarcasmo: a Prefeitura ( fiscais e o setor de engenharia), o Corpo de Bombeiros e os outros órgãos que tinham por tarefa a liberação do local, fornecem capengas explicações, na tentativa de justificar o injustificável.
A nossa indignação se potencializa quando tomamos conhecimento que:
- uma autoridade judiciária, de qualquer instância, fornece liminar , autorizando o funcionamento temporário de estabelecimentos , mesmo depois que a inspeção realizada neles contraindique essa concessão, sob a frágil alegação de cerceamento da liberdade de investir ou se corrompe, vendendo sentenças, em troca de dinheiro sujo e mal havido pelas máfias. Assim procedendo ela colabora negativamente com a prática dessa cultura permissiva e irresponsável e denigre o poder judiciário;
- uma autoridade executiva, ferindo os princípios da moralidade administrativa e da ética , se corrompe ou participa de negócios e tratativas escusas e governa como se o cargo fosse de sua propriedade, atendendo exclusivamente aos desejos do partido político ao qual pertence. Assim procedendo ela fere a liturgia do cargo e o fragiliza;
- parlamentares eleitos para representar o povo em suas legítimas aspirações, se deixem corromper ao participarem de negociatas com o intuito de atender aos apelos dos governos de ocasião ou seus interesses menores, conspurcando seus mandatos e desmoralizando a Instituição a que pertencem;
- parlamentares do
Congresso Nacional , de qualquer das suas Casas ( Senado e Câmara),
aceitem ser chefiados por colegas cujo passado e histórias de vida não
os recomendam para o exercício de tão dignificante tarefa ou reajam a
decisões emanadas da mais alta corte do país, quando se posicionam
contrários à condenação de seus pares, julgados culpados por crimes
cometidos no exercício de suas atividades políticas. Assim procedendo
colaboram, ainda mais, para desmoralizar a Instituição a que
pertencem.
Infelizmente, há longos anos, a nação convive com essa corrente perversa constituída de elos importantes, mas lastimavelmente frágeis. Em todas as esferas do poder ( Executivo, Legislativo ou Judiciário ) , e nos diferentes âmbitos da federação ( Federal, Estadual ou Municipal ) , constatamos, com irritante frequência, desvios de conduta , omissões e negligência de autoridades , revelando, assim, o baixo nível e a evidente falta de compromisso com princípios, e com a solidez ética e cultural de nossa gente.
Enquanto isso, como sói acontecer e pelas declarações das nossas autoridades, as investigações caminham na busca de um “ Bode Expiatório” palatável, capaz de assumir a culpa por toda essa lastimável tragédia.
“ Se a porta foi arrombada , coloquemos uma tranca de ferro”. Porto Alegre, 29 de janeiro de 2013
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