Após a rejeição do relatório final da CPI que investigou o bicheiro, e mesmo com a decisão de enviar o resultado dos trabalhos ao Ministério Público Federal, documentos ainda não foram encaminhados. Dessa forma, inquérito policial segue congelado
Nada menos do que 127.484 páginas de documentos produzidos
exclusivamente durante os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) do Cachoeira dormem nos arquivos da Coordenação do Congresso
Nacional desde dezembro, quando o colegiado foi encerrado. Uma
permanência prolongada na Casa que coloca mais ingredientes na pizza que
foi assada no colegiado depois da rejeição do relatório final do
deputado federal Odair Cunha (PT-MG), que propunha o indiciamento do
bicheiro e de integrantes da organização criminosa, além de políticos e
membros do Ministério Público. Na tentativa de buscar uma saída depois
da recusa dos indiciamentos, os integrantes da CPI decidiram que os
documentos seriam encaminhados ao Ministério Público Federal para a
ampliação das investigações, mas há mais de dois meses eles estariam
“sendo preparados” para o cumprimento da medida, de acordo com o
atendimento ao usuário do Senado Federal. ...
Apesar da forte repressão sofrida no ano passado pelo grupo de Cachoeira — que está em liberdade mesmo depois de ter sido condenado a mais de 39 anos de prisão e de ser alvo de vários processos criminais —, o milionário mercado ilegal do jogo tem resistido. Na semana passada, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco), da Polícia Civil do Distrito Federal, fechou três cassinos em Valparaíso (GO), no Entorno do DF, que pertencem à família de José Olímpio de Queiroga Neto, um dos mais fortes colaboradores do contraventor, numa clara demonstração de que a organização criminosa ainda respira, e bem. Cachoeira ficou preso durante nove meses depois de ter sido alvo de duas operações da Polícia Federal, a Monte Carlos e a Saint-Michel. O contraventor está em liberdade por força de decisão da 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRT-1), em Brasília.
Uma das consequências diretas da lentidão na remessa dos documentos foi a paralisação de inquérito policial instaurado pela Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro para apurar a atuação da Delta Construções em transações comerciais suspeitas. De acordo com o relatório de Cunha, Carlinhos Cachoeira seria sócio oculto da empreiteira, com 45% de participação nos lucros dos contratos firmados pela regional do Centro- Oeste. O trabalho de investigação dos policiais federais foi interrompido com a instalação da CPI, e seria retomado a partir da remessa à PF de documentos fiscais e bancários que já foram requeridos pela comissão. A superintendência da PF do Rio não respondeu ao pedido de informação sobre a situação do inquérito. Por sua vez, o Departamento de Polícia Federal, em Brasília, esclareceu que a corporação ainda não recebeu qualquer documento ou pedido oficializando a sua atuação.
Irregularidades
No texto final, o relatório de Odair Cunha ressalta a suspeita, levantada durante os trabalhos de apuração, de que a Delta Construções ajudou a alimentar o esquema criminoso de Cachoeira, com financiamento no pagamento de propinas e outras manobras. Em um dos trechos das quase 5 mil folhas do relatório, Cunha afirma: “Fora do fato determinado que direcionou nosso trabalho, mas em sintonia de conexão com o objeto da investigação que fazíamos, identificamos outras supostas irregularidades, também alimentadas financeiramente a partir da empresa Delta e diversas empresas fora da Região Centro-Oeste. Não nos omitimos diante dessa realidade. Dentro das limitações constitucionais do nosso trabalho, identificamos todas essas empresas, os valores movimentados e as irregularidades que as caracterizam, de modo que também encaminharemos à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal um trabalho bastante avançado, com um acervo investigativo que permitirá a continuidade e o aprofundamento das investigações”.
No entendimento do relator, o trabalho da CPI avançou na apuração e teria conseguido deixar claro os responsáveis, os beneficiários e o caminho do dinheiro da organização criminosa de Carlinhos Cachoeira. “Seguimos e identificamos todos os beneficiários (pessoas físicas e jurídicas) dos recursos oriundos dessas empresas de fachada, de modo que o caminho do dinheiro está apontado e deverá ser percorrido, como dito, pelos órgãos de investigação permanente do Estado. Localizamos diversos bens móveis e imóveis adquiridos com recursos da organização criminosa. E em parceria com o Ministério Público Federal, conseguimos o sequestro e a indisponibilidade de um grande acervo patrimonial da quadrilha”, afirma.
“Seguimos e identificamos todos os beneficiários (pessoas físicas e jurídicas) dos recursos oriundos dessas empresas de fachada, de modo que o caminho do dinheiro está apontado e deverá ser percorrido, como dito, pelos órgãos de investigação permanente do Estado. Localizamos diversos bens móveis e imóveis adquiridos com recursos da organização criminosa”
Trecho do relatório final da CPI do Cachoeira
Acervo
Além da documentação produzida pela CPI, faz parte do acervo milhares de documentos elaborados pela Polícia Federal nas operações Monte Carlo e Saint-Michel e cópias de processo em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar da forte repressão sofrida no ano passado pelo grupo de Cachoeira — que está em liberdade mesmo depois de ter sido condenado a mais de 39 anos de prisão e de ser alvo de vários processos criminais —, o milionário mercado ilegal do jogo tem resistido. Na semana passada, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco), da Polícia Civil do Distrito Federal, fechou três cassinos em Valparaíso (GO), no Entorno do DF, que pertencem à família de José Olímpio de Queiroga Neto, um dos mais fortes colaboradores do contraventor, numa clara demonstração de que a organização criminosa ainda respira, e bem. Cachoeira ficou preso durante nove meses depois de ter sido alvo de duas operações da Polícia Federal, a Monte Carlos e a Saint-Michel. O contraventor está em liberdade por força de decisão da 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRT-1), em Brasília.
Uma das consequências diretas da lentidão na remessa dos documentos foi a paralisação de inquérito policial instaurado pela Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro para apurar a atuação da Delta Construções em transações comerciais suspeitas. De acordo com o relatório de Cunha, Carlinhos Cachoeira seria sócio oculto da empreiteira, com 45% de participação nos lucros dos contratos firmados pela regional do Centro- Oeste. O trabalho de investigação dos policiais federais foi interrompido com a instalação da CPI, e seria retomado a partir da remessa à PF de documentos fiscais e bancários que já foram requeridos pela comissão. A superintendência da PF do Rio não respondeu ao pedido de informação sobre a situação do inquérito. Por sua vez, o Departamento de Polícia Federal, em Brasília, esclareceu que a corporação ainda não recebeu qualquer documento ou pedido oficializando a sua atuação.
Irregularidades
No texto final, o relatório de Odair Cunha ressalta a suspeita, levantada durante os trabalhos de apuração, de que a Delta Construções ajudou a alimentar o esquema criminoso de Cachoeira, com financiamento no pagamento de propinas e outras manobras. Em um dos trechos das quase 5 mil folhas do relatório, Cunha afirma: “Fora do fato determinado que direcionou nosso trabalho, mas em sintonia de conexão com o objeto da investigação que fazíamos, identificamos outras supostas irregularidades, também alimentadas financeiramente a partir da empresa Delta e diversas empresas fora da Região Centro-Oeste. Não nos omitimos diante dessa realidade. Dentro das limitações constitucionais do nosso trabalho, identificamos todas essas empresas, os valores movimentados e as irregularidades que as caracterizam, de modo que também encaminharemos à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal um trabalho bastante avançado, com um acervo investigativo que permitirá a continuidade e o aprofundamento das investigações”.
No entendimento do relator, o trabalho da CPI avançou na apuração e teria conseguido deixar claro os responsáveis, os beneficiários e o caminho do dinheiro da organização criminosa de Carlinhos Cachoeira. “Seguimos e identificamos todos os beneficiários (pessoas físicas e jurídicas) dos recursos oriundos dessas empresas de fachada, de modo que o caminho do dinheiro está apontado e deverá ser percorrido, como dito, pelos órgãos de investigação permanente do Estado. Localizamos diversos bens móveis e imóveis adquiridos com recursos da organização criminosa. E em parceria com o Ministério Público Federal, conseguimos o sequestro e a indisponibilidade de um grande acervo patrimonial da quadrilha”, afirma.
“Seguimos e identificamos todos os beneficiários (pessoas físicas e jurídicas) dos recursos oriundos dessas empresas de fachada, de modo que o caminho do dinheiro está apontado e deverá ser percorrido, como dito, pelos órgãos de investigação permanente do Estado. Localizamos diversos bens móveis e imóveis adquiridos com recursos da organização criminosa”
Trecho do relatório final da CPI do Cachoeira
Acervo
Além da documentação produzida pela CPI, faz parte do acervo milhares de documentos elaborados pela Polícia Federal nas operações Monte Carlo e Saint-Michel e cópias de processo em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Por Maria Clara Prates
Fonte: Correio Braziliense
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