Os Estados Unidos teriam muito mais dinheiro para se defender se a sobrevivência nacional importasse mais que ideais abstratos.
Com cortes automáticos despontando no horizonte, as forças armadas dos Estados Unidos estão fadadas a sentirem dificuldades. Na última sexta-feira, o Washington Times noticiou a declaração do General da Força Aérea Mark Welsh dizendo que um corte em larga escala nas horas de voo começará no dia 1 de maio. De acordo com um assessor parlamentar citado no artigo, mesmo que o financiamento normal fosse retomado até julho, apenas cerca de 40 a 50% das aeronaves de combate americanas estariam nas “condições de atender os requerimentos desejados para os tempos de guerra”.
Enquanto
a Rússia e a China reservam ouro e mão-de-obra a fim de minar o dólar, e
enquanto os EUA continuam a sangrar financeiramente, o verdadeiro
perdedor será a segurança nacional. Evidentemente a segurança nacional
dos EUA tem altos custos. É dito que o Pentágono é o maior dos programas
de bem-estar e, além disso, há a excessiva corrupção e o desperdício
intricados no Departamento de Defesa. Mas seja como for, o sistema está à
beira da falência e os cortes orçamentários na área militar ocorrerão
em detrimento do poderio americano.
Como
muitos leitores devem saber, os EUA têm participado de conflitos
estrangeiros que também incluíram escandalosas quantias nos esforços
para reconstruir o Iraque e o Afeganistão. O governo federal derramou de
seu próprio tesouro para assegurar as bênçãos da liberdade para povos
que provavelmente nos odeiam. E, como o sangue e o tesouro americanos já
foram usados até o esgotamento, o retorno para casa será acompanhado da
inevitável consequência de que tanto o Iraque quanto o Afeganistão
voltarão a ser o que eram antes, ou seja, sociedades regidas pelo
conflito e pela lei do mais bruto, de modo que os inimigos da América
voltarão ao poder.
A América não tem sido sábia na sua política externa. Como escreveu James Burnham em Suicide of the West,
“muito
raramente a política externa dos Estados Unidos tem sido direcionada de
modo consciente para grandes objetivos estratégicos de longo prazo”. Ao
contrário, a política externa dos EUA sempre tem sido “um amálgama de
ideais morais abstratos com interesses materiais que, em muitos casos,
não têm nenhuma conexão inteligível com esses mesmos ideais abstratos”.
Burnham observou logo em seguida que é
“essa dupla face da política externa americana que tem irritado tanto os europeus, que frequentemente – e erroneamente – levam em conta apenas os interesses materiais [...] como sendo a única parte genuína do amálgama, de modo que eles veem os ideais apenas como um retoque de cinismo hipócrita”.
“essa dupla face da política externa americana que tem irritado tanto os europeus, que frequentemente – e erroneamente – levam em conta apenas os interesses materiais [...] como sendo a única parte genuína do amálgama, de modo que eles veem os ideais apenas como um retoque de cinismo hipócrita”.
As
aventuras americanas em terras iraquianas e afegãs no século XXI
ilustram essa observação quase cinco décadas após terem sido escritas.
Corriqueiramente a América sacrifica o bom-senso financeiro nos altares
da “democracia”, da “lei internacional” ou da “paz”. Esse retoque
hipócrita de ideais abstratos não é hipocrisia de maneira alguma. Antes
fosse! São esses mesmos ideais abstratos que estão quebrando a banca –
aqui e lá fora. Grandes interesses estratégicos são regularmente
sacrificados em favor de partidos e movimentos de “inclinação e slogans
liberais” [N.T.: “liberal” na acepção americana do termo, ou seja, de
esquerda]. Considere, por exemplo, a “Primavera Árabe”, que atualmente
veste a máscara liberal. Tudo é pago pela América a fim de beneficiar
potenciais inimigos islâmicos cujos interesses materiais e estratégicos
são antiéticos do ponto de vista americano.
Os
Estados Unidos teriam muito mais dinheiro para se defender se a
sobrevivência nacional importasse mais que ideais abstratos.
Lamentavelmente, nosso prevalecente idealismo requer o empobrecimento e a
destruição da América – assim como forçará a destruição das classes
proprietárias. E, quanto mais somos idealistas, mais nossas políticas
serão necessariamente suicidas. Na verdade, jamais deveríamos considerar
as consequências de longo prazo da generosidade às pessoas erradas ou
as consequências das reconstruções nacionais feitas onde forças
nacionais destrutivas e as circunstâncias estão sempre destinadas a ter o
poder.
“Provavelmente
nenhuma outra nação”, escreveu Burnham, “tem sido tantas vezes
‘surpreendida’ por acontecimentos internacionais: surpreendida pelo fato
de que Mao e Castro, no final das contas, eram comunistas [...] e que
os seres humanos, como se fosse a maior surpresa de todas, agem como
seres humanos”. A coisa realmente torna-se perigosa, observou Burnham,
quando essa habitual distração americana toma conta quando o assunto é a
guerra. “Os Estados Unidos nunca estiveram preparados militarmente,
politicamente ou psicologicamente para as suas guerras” escreveu
Burnham. Do mesmo modo, não estaremos preparados quando o Egito se aliar
ao Irã em um conflito futuro; ou quando o Irã conduzir testes nucleares
na cidade de Nova York.
Essa
limitação no horizonte de visão está na estrutura dos americanos. Eles
não têm olhos para o que está adiante. E isso se aplica, principalmente,
à situação financeira americana. Os americanos não veem a bancarrota
que se aproxima. Se vissem, não teriam reeleito o atual presidente. Não
estariam segurando dólares, mas migrando para o ouro e a prata. Então se
deve perguntar o que essas pessoas farão quando chegar o momento de
crise. Como eles irão lidar com o fim da prosperidade?
As
pessoas fazem o que já está consolidado no hábito, isto é, se elas têm
se iludido nos últimos cinquenta anos, elas continuarão a se iludir. Se
elas acreditaram em slogans vazios, então há de se assumir que elas
continuarão a acreditar em slogans vazios – independente de como ele
esteja alterado segundo as necessidades do momento. Os erros que
causaram a bancarrota continuarão a prevalecer e continuarão a
funcionar. Qual, pois, é o contra-argumento que tende a prevalecer e
qual demagogo está disposto a arrumar o que está errado?
Por
isso, a Força Aérea dos Estados Unidos terá menos aeronaves de combate
“capaz de atingir os requerimentos para os tempos de guerra”. A América
terá menos armas de todos os tipos e sua influência será anulada
enquanto a Rússia e a China exercem seu domínio sobre a Europa, Ásia e
África. Além do mais, as pensões e os benefícios sociais atuais serão
descontinuados e os Estados Unidos sucumbirão a uma série de crises
políticas. Esse é o derradeiro preço do idealismo abstrato da América.
Conforme James Burnham nos alertou,
“a civilização ocidental não pode sobreviver persistentemente [...] sem os Estados Unidos. Tomo isso como algo muito óbvio nas discussões, pois se os Estados Unidos colapsarem ou forem reduzidos à insignificância, o colapso de todas as outras nações ocidentais não tardará a seguir o mesmo rumo...”
“a civilização ocidental não pode sobreviver persistentemente [...] sem os Estados Unidos. Tomo isso como algo muito óbvio nas discussões, pois se os Estados Unidos colapsarem ou forem reduzidos à insignificância, o colapso de todas as outras nações ocidentais não tardará a seguir o mesmo rumo...”
Publicado no Financial Sense.
Tradução: Leonildo Trombela Júnior
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