Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

NADA PODEMOS FAZER POR NÓS

Durante o carnaval um desembargador de Mato Grosso liberou traficantes internacionais de droga durante o seu plantão no Tribunal de Justiça. No ano passado dois outros desembargadores mandaram soltar 40 assaltantes, assassinos, traficantes e arrombadores de caixas eletrônicos porque o Ministério Público errou uma formalidade processual. Magistrados estão com “a mão doendo de tanto assinar liberação de criminosos”, confidenciou-me um magistrado.
 
Nesta semana um desembargador aposentado foi assaltado e humilhado junto com a sua família. São faces de uma mesma moeda. Um dos assaltantes foi preso e será solto, como são todos os demais, caso haja uma vírgula mal colocada no inquérito. O fato é que a violência saiu do controle da sociedade. É disso que gostaria de falar neste artigo. O descaso dos senhores magistrados acabará se virando contra eles mesmos e as suas famílias. Questão só de tempo, do jeito que as coisas estão caminhando.
 
O número de jovens acima de 15 anos que entram no crime representa a quase totalidade da criminalidade. Entram, ficam. Aos 30 anos já são excelentes profissionais. Pior: sentem muito orgulho de serem o que são. Entre eles é motivo de heroísmo aparecer na TV algemado, e mais herói ainda trocar tiros com policiais e um deles ficar ferido. São medalhas de identidade. É a sua cidadania! Não invento isso. Ouvi de um coronel da PM, lúcido e culto. Onde moram, as moças adoram os seus heróis.
 
Então, nós não estamos falando de polícia e nem de justiça. Estamos falando de deformações da própria sociedade. Mas não foram criadas por ela. Foram criadas pela falta de políticas públicas elementares como a educação. Esses jovens de 14 a 30 anos, que são a maioria dos criminosos, não receberam educação escolar na infância e, portanto, desconhecem todos os valores sociais como o valor da vida, o valor do patrimônio de cada pessoa. Lamentavelmente, disse-me aquele coronel e já ouvi de um delegado de polícia também culto e humanista: “são bichos urbanos!”.
 
Esse ambiente de guerra civil que vivemos entre os “bichos urbanos”, imaturos e animalizados de um lado, e uma sociedade amedrontada e omissa de outro, só será resolvido com prevenção social. Mas é aí que está a complicação. Seria preciso que o poder público se comprometesse. Difícil, difícil, porque não rende votos. Além da insegurança pública ser um inesgotável discurso eleitoral, ainda rende muito dinheiro para gestores públicos. Prevenir não elege ninguém!
 
Logo, só a sociedade seria capaz de apontar rumos, caso se tocasse. Não creio! Melhor discutir esses assuntos e outras amenidades na mesa do bar...!

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

onofreribeiro@terra.com.br

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