Guilherme Fiuza - Revista Época -
O ano de 2012 se encerrou de forma absolutamente normal no Congresso
Nacional. Em sua última sessão, o Senado aprovou um trem da alegria para
os Três Poderes, com a criação de milhares de cargos numa só canetada. É
normal porque a caneta era de José Sarney, companheiro de Dilma
Rousseff, uma aliança que, todos sabem, serve ao Brasil de todos – todos
os que fizeram as amizades certas. Se você está fora dessa, terá de cumprir em 2013 o destino trágico dos reles mortais,
esses infelizes que não têm uma Rosemary para chamar de sua – e que
ainda fazem uma coisa primária que os companheiros revolucionários não
precisam mais fazer: trabalhar.
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Mas não se desespere. A vida dos excluídos (do
banquete petista) tem lá suas compensações. É bem verdade que você nunca
verá um filho seu ficar famoso da noite para o dia por ter arranjado
uma boquinha na Anac ou no Senado. Nunca o convidarão, também, para uma
reunião com José Dirceu para “reforçar o Marco Maia”.
Enfim,
você não tem a menor importância na República do Oprimido, mas nem tudo
são espinhos. Ninguém lhe pedirá para cantar “olê, olê, olê, olá, Lula,
Lula” em desagravo ao filho do Brasil – o que já é um vidão.
Para
consolar os excluídos, os que vivem miseravelmente sem acesso a uma
única teta do Estado brasileiro, uma ponderação: o Brasil se tornou um
país previsível, de rumo firme. Isso torna possível antecipar o que
acontecerá em 2013. Isso jamais seria possível antes do Descobrimento
(em 2003) – portanto, não reclame de barriga cheia.
Em
março, Dilma Rousseff convocará a primeira cadeia nacional de rádio e
TV da série 2013. Fará um pronunciamento à nação pelo Dia Internacional
da Mulher. Falará com a voz embargada, sobre um fundo de violinos, e, se
a iluminação do estúdio estiver correta, parecerá ter os olhos
molhados. Encherá os brasileiros de orgulho por ser governados por uma
“presidenta” – palavra que seus assessores saberão encaixar no discurso –
e anunciará algum programa social novo, tipo Brasil Caridoso, Brasil
Sem Tristeza ou Brasil Fofo. Apresentará uma estatística impressionante,
encomendada ao Ipea e à FGV, mostrando que nos anos Fernando Henrique
lugar de mulher era na cozinha.
A inflação em
2013 continuará subindo, e a aprovação a Dilma tambémEm 2013, o Brasil
sofrerá novos apagões, provocados por raios neoliberais e elitistas. A
tarifa populista de energia será implantada, ajudando a sucatear as
empresas do setor, que por isso investirão menos ainda em manutenção –
mas os blecautes não terão nada a ver com isso. O ministro Edison Lobão
explicará que nosso sistema é um dos melhores do mundo e que essa mania
de ter luz o tempo todo é coisa de burguesia consumista. Sarney ficará
orgulhoso de seu afilhado – e pedirá a Roseana, com jeito, que deixe
Lobão governar um pouquinho o Maranhão (“Filha, agora descansa e deixa
seu colega brincar também.”).
A inflação em
2013 continuará subindo, e a aprovação a Dilma também. Explica-se o
paradoxo: a principal causa da subida dos preços será um novo aumento
explosivo dos gastos públicos, incluindo a distribuição de mais dinheiro
de graça para a população – através dos programas carinhosos, o Bolsa
Tudo. É a “destruição invisível” da economia nacional, que em 2013 será
caprichada, porque em 2014 tem eleição. Os simpatizantes do governo
popular ficarão felizes com a farta distribuição de bolsas, cargos,
convênios a granel para os ministérios parasitários, e Dilma marchará
tranquila para a reeleição. Aécio Neves assistirá a tudo escondido nas
Alterosas e rezando para que Eduardo Campos o ultrapasse na corrida para
não chegar.
Joaquim Barbosa, o redentor,
fará muitos comícios sociais na presidência do Supremo, deixando pela
primeira vez os brasileiros na dúvida: talvez exista outro ser tão
bonzinho quanto Lula da Silva. Barbosa evidentemente será mordido pela
mosca azul, mas o eleitor acabará ficando mesmo com o pacote Lula/Dilma,
para não arriscar a mesada (o mensalão popular).
Rosemary
não entregará seu chefe. Terá um ano sofrido, sem passaporte
diplomático, mas ficará firme. Afinal, Lula não sabia (dona Marisa muito
menos), e o amor sempre vence.
Como se vê,
2013 já foi. Se quiser uma passagem direta para 2014, passe no caixa da
revolução, que o pessoal da Rose na Anac arranja para você.
Fonte: revista Época
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