editorial da Folha de São Paulo
Eduardo Cunha está atrás das grades. Acusado de corrupção, lavagem de
dinheiro e envio clandestino de recursos ao exterior (evasão de
divisas), o ex-presidente da Câmara dos Deputados teve sua prisão preventiva decretada pelo juiz federal Sergio Moro.
Em decisão assinada na segunda-feira (17) e executada nesta quarta (19),
o magistrado de Curitiba, responsável pelos julgamentos em primeira
instância da Operação Lava Jato, afirmou haver indícios de que o
ex-deputado pelo PMDB-RJ se envolveu "na prática habitual e profissional
de crimes contra a administração pública".
Baseando-se em documentos reunidos pelo Ministério Público Federal, Moro
sustenta que Cunha utilizou contas secretas no exterior para ocultar o
produto de seus desvios, os quais teriam ocorrido não só nos contratos
com a Petrobras mas também em outras áreas, não raro "com o emprego de
extorsão e de terceiros para colher propinas".
Daí por que o juiz considerou necessária a prisão provisória por tempo
indeterminado: para evitar obstrução da Justiça e reiteração do delito,
além de dificultar a dispersão de montantes ainda não recuperados —cerca
de US$ 13 milhões, segundo o MPF— e impedir a fuga de Cunha, nascido no
Rio e detentor de cidadania italiana.
Dado o conjunto da obra e o grau de exposição que se deu a ela, havia
poucas dúvidas de que, tendo perdido as proteções que a Constituição
oferece aos deputados, o peemedebista cedo ou tarde teria o mesmo
destino de outros investigados pela força-tarefa de Curitiba.
Surpreendeu que tenha sido tão cedo: pouco mais de um mês após terminar
na Câmara o processo de cassação do mandato de Cunha, o mais longo de
nossa história, e menos de uma semana depois de a ação penal, iniciada
no Supremo Tribunal Federal, começar a tramitar sob a batuta de Moro.
Pegos desprevenidos, os antigos colegas de Cunha demoraram a reagir à notícia.
Quando o fizeram, sem conseguirem esconder a perplexidade diante da
prisão de um dos mais poderosos presidentes da Câmara que o Brasil já
conheceu, paralisaram votações e suspenderam sessões em plena quarta,
dia de maior movimentação na Casa.
Sensação semelhante tomou conta do governo federal. Oficialmente em
silêncio —o presidente se encontrava em trânsito, retornando do Japão—, o
entourage de Michel Temer (PMDB) revelava nos bastidores grande apreensão.
Parlamentar influente como poucos, o ex-deputado vinha negando a
possibilidade de negociar um acordo com os investigadores. "Só faz
delação quem cometeu crime, e eu não cometi", dizia.
Agora que Eduardo Cunha sabe como Sergio Moro enxerga sua situação,
talvez ele mude de ideia. Sua delação premiada cairia como uma bomba em
Brasília —e não há quem não saiba disso no mundo político.
extraídaderota2014blogspot
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