por Ruy Castro FOLHA DE SÃO PAULO
Às vezes, me perguntam se vivo de literatura. A resposta é sim -se,
durante o mês, eu for chamado a dar palestras, ministrar um curso de
biografia, coordenar um ciclo de debates ou ganhar um prêmio literário.
Enfim, se conseguir me virar fora da página impressa. Já quando me
perguntam se vivo de direitos autorais, a resposta é não, e vale para
90% dos escritores nacionais, exceto uma meia dúzia e alguns autores de
livros para jovens e de autoajuda. Claro que todas essas atividades
-palestras, cursos, debates, prêmios- exigem que o sujeito pratique ou
tenha praticado alguma literatura.
O ex-presidente Lula não pratica literatura. Praticou a presidência de
um país. E, desde que passou o cargo, o mundo tem se atropelado para
saber como ele fez, qual o seu segredo e com que fórmulas mágicas pegou
um país quebrado, segundo diz, e o tornou essa potência em que vivemos.
Faz isso em palestras de 50 minutos em países da África, do Oriente
Médio e da América do Norte, e não chega para os convites.
Sua empresa de palestras, sabe-se agora, arrecadou R$ 27 milhões nos
últimos quatro anos. São R$ 6,75 milhões por ano. Quantas palestras
serão necessárias para render esse cachê? E haverá assunto para tanta
palestra? R$ 10 milhões desse dinheiro vieram dos empreiteiros que estão
sendo investigadas pelos assaltos à Petrobras. De tanto ouvi-las, já
não deviam saber as palestras de cor?
Sorte de Lula não ser escritor. E olhe que sua vida é uma fabulosa obra
de ficção -uma saga com a qual nem as de Jorge Amado, Erico Verissimo e
Guimarães Rosa se comparam. Contém intrigas, mentiras, traições, morte,
dinheiro, lances de chanchada, reviravoltas -o protagonista aparenta ser
uma coisa e se revela outra. E, como toda ficção, boa parte dela é
verdade.
Nem toda ficção tem final feliz. Aliás, a melhor é a que não tem.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
0 comments:
Postar um comentário