por Mary Zaidan Com Blog do Noblat - O Globo
Aécio Neves deve estar exultante. Desde outubro do ano passado, na quase
virada entre o primeiro e o segundo turnos das eleições, ele não
surfava nem mesmo perto do topo da onda. Volta agora sob o patrocínio de
Dilma Rousseff, que, relegada ao volume morto, bate boca e dá trela ao
rival, abrindo generosos espaços para ser criticada por ele. Em dobro,
triplo ou mais.
Dilma joga contra ela.
Talvez pela mania de autossuficiência, de tudo impor à sua maneira.
Talvez por falta de tato e impaciência. Provavelmente por soberba e
teimosia, ou tudo isso junto, Dilma parece não compreender o quanto ela
perde cada vez que retruca a fala do senador mineiro, recém-reeleito
presidente do PSDB, maior partido de oposição.
Pior: nada ganha. Até os poucos fiéis que ainda lhe restam divergem da
eficácia da estratégia de ela própria vir a público protestar quanto às
possibilidades de seu impedimento. No ímpeto de se mostrar forte, expõe
sua fragilidade. Atenta contra si.
Embrenha-se em um espinheiro no qual quanto mais ela se mexe mais se
machuca, e escancara o fato de não conseguir um aliado sequer para
defendê-la, para debater com Aécio de igual para igual.
As acusações de golpismo, ainda que despropositadas, soariam menos
impróprias se viessem do líder do governo no Senado ou do presidente do
PT. De igual para igual.
Poupariam Dilma do vexame do “daqui não saio daqui ninguém me tira” que,
como criança birrenta, ela transformou em “não vou, não vou, não caio,
não caio”, na fatídica entrevista à Folha de S. Paulo.
Como se tivesse qualquer possibilidade de interferir nas normas
constitucionais caso algum processo venha a ser aberto contra ela.
Dilma abusa do direito de errar. Nos Estados Unidos, acuada pelas novas
diligências da Lava-Jato, caiu na esparrela de comparar a delação
prevista em lei que ela própria sancionou a coerção tirana exercida pelo
governo militar. A espantosa declaração ofuscou os resultados da
viagem.
E insiste no erro: de Ufá, na Rússia, onde se reuniu com os parceiros
dos BRICS, tinha tudo para mudar a pauta. Mas preferiu, para delírio da
oposição em geral e de Aécio em particular, rebater o senador.
Novamente.
Erráticos na forma de exercer oposição – chegaram ao absurdo de votar
contra temas que já foram pilares de sua agenda, como o fator
previdenciário e a reeleição -, os tucanos não têm conseguido
capitalizar a aguda insatisfação popular com Dilma e o PT. Só tinham
perdido terreno desde as eleições. Mesmo com a presidente sangrando.
Com o empurrão de Dilma, voltam a ter voz.
Mas ainda estão longe da liderança no ranking dos que mais perturbam a
presidente. Ficam muito atrás do PMDB de Eduardo Cunha e Renan
Calheiros. Perdem para Lula e para a própria Dilma. Esta, sim,
insuperável em derrubar a si mesma.
extraídaderota2014blogspot





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