por Bernardo Mello Franco Folha de São Paulo
Dilma Rousseff aderiu à tática de desqualificar os delatores do
petrolão. É um truque antigo: em vez de esclarecer o conteúdo da
acusação, ataca-se o acusador.
Foi o que ela fez ao criticar o empreiteiro Ricardo Pessoa, que ajudou a
bancar sua campanha, foi preso por corrupção e agora colabora com as
investigações da Lava Jato.
A presidente está irritada. Nesta segunda, comparou o empresário a
Joaquim Silvério dos Reis, o traidor da Inconfidência Mineira, e aos
dedos-duros da ditadura militar. "Eu não respeito delator. Até porque eu
estive presa na ditadura e sei o que é", afirmou, em Nova York.
O discurso afronta a história do Brasil e a inteligência do eleitor.
Dilma não é Tiradentes, e o que seus aliados fizeram na Petrobras nada
tem a ver com a luta dos inconfidentes. Da mesma forma, as investigações
da Lava Jato não guardam semelhança com os abusos dos militares.
Os réus do petrolão respondem a processos na democracia. Alguns fecharam
acordo com a Justiça para entregar outros criminosos em troca da
redução de pena. O mecanismo é usado em diversos países para desmontar
quadrilhas. Se mentir, o delator perde o direito ao benefício.
Dilma conhece bem a diferença, porque foi vítima de torturas na ditadura
e sancionou, há menos de dois anos, a lei que estabeleceu as regras da
colaboração premiada. Aliás, o texto deixa claro que ninguém pode ser
condenado apenas com base no depoimento de réus confessos.
Ao atacar o empreiteiro que patrocinou sua eleição, a presidente deixou
de explicar se as doações estavam ligadas a fraudes na Petrobras, como
ele disse aos procuradores. Também ficou devendo um comentário sobre as
menções a mais dois ministros de seu governo, os petistas Aloizio
Mercadante e Edinho Silva.
Antes de o dono da UTC abrir o bico, quatro ex-ministros de Dilma já
eram investigados na Lava Jato: Antonio Palocci, Gleisi Hoffmann, Edison
Lobão e Mario Negromonte.
extraídaderota2014blogspot
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