Jung,
nos seminários sobre o Zaratustra antes da II Guerra se recusou a
traduzir o Canto Noturno, como se fosse o alemão um novo hebraico.
É sempre comovente
ler o livro Direito Natural e História, do Leo Strauss. Uma tentativa
hercúlea de compreender o que houve com Ocidente ao fim da Segunda
Guerra. Leo Strauss foca no historicismo filosófico e seu desdobramento, o positivismo e o existencialismo (pensava em Heidegger) como causa intelectual de tudo.
Como Hitler foi possível? Como o comunismo foi possível? Como a regressão à barbárie foi possível? Evidentemente foi o abandono de Deus. O esforço de Strauss para compreender era fundar uma via que pudesse impedir a recaída. Se conseguiu erguer um edifício, falhou na política. A segunda metade do século XX foi o triunfo do socialismo e dos direitos humanos, essa falsificação do direito natural. O mundo pronto de novo para a barbárie. Strauss evita o ponto crítico: explicar a erupção do mal. Hegel, Goethe, Nietzsche, Heidegger e Jung. Este último foi didático e claro. A tradição esteticista inaugurada por Goethe fecha o ciclo com Jung. Seus seminários sobre o Zaratustra de Nietzsche são instrutivos. Todos os filiados à corrente do esteticismo foram cultuadores do mal como elemento 'benéfico' e motor da história. A Negação era tudo. A psicologia analítica é o apogeu do culto ao mal. Jung viu no Zaratustra esse emergir do elemento essencial da história. Jung viu o alemão como língua sacra dessa nova igreja germanista/racista. O demônio do Norte como elemento criativo. O Canto Noturno como oração.
Jung, nos seminários sobre o Zaratustra antes da II Guerra se recusou a traduzir o Canto Noturno, como se fosse o alemão um novo hebraico. Essa reverência com a erupção do mal preparou os caminhos do genocídio. É aterrador saber que os esteticistas faziam rituais secretos. Algo desses rituais podemos ver no filme de Kubrick De Olhos Bem Fechados. Era coisa muito louca. O abandono de Deus é loucura completa.
Leo Strauss fracassou porque o direito natural clássico não pôde ser restabelecido. A loucura continuou e está mais ativa do que nunca. Já são quinhentos anos de loucura, desde a Reforma. Tempos revolucionários foram inaugurados. O mal pôde prevalecer nas letras e na filosofia.
Os sete sermões aos mortos
O livro Sete Sermões aos Mortos, do Jung, só foi publicado depois da morte, embora tenha sido um escrito de juventude. O autor revelou seu receio ao retardar a divulgação do texto. Fez certo. Jung descreveu ali fatos vividos. Mas mortos não falam, demônios falam por eles. Foram experiência-limite com o mal, que tanto fascinou Jung. De fato, foi um duelo do Ocidente com o Oriente. Mortos que falam é algo estranho ao cristianismo. Mortos que falam é platonismo degenerado. O Oriente ganhou a alma de Jung. Basílides de Alexandria é seu novo codinome. Um neoplatônico fora de época. Um cultuador de Satã. Ou Mefisto. Esquizofrênicos que achavam que falavam com mortos encontravam em Jung não um curador, mas um consolador, alguém portador do mesmo mal.
No livro A Montanha Mágica Thomas Mann insere uma sessão espírita. Invocado o morto, aparece Mefisto ele mesmo. É sempre assim. A doença espiritual de Jung é a doença do nosso tempo, que acha que fala com mortos e invoca Satanás. O mal desfila sobre a terra.
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