Vera Rosa e Ricardo Galhardo - O Estado de S.Paulo
Desgastado pela maior crise de sua história, o PT encolherá nestas
eleições municipais. Levantamentos feitos pela cúpula petista indicam
que, diante de tantos escândalos, o partido tem chance de emplacar no
máximo a metade dos 635 prefeitos eleitos em 2012, em todo o País. O
tamanho da derrota, porém, será medido por São Paulo, capital que o PT
governa desde 2012 com Fernando Haddad.
O resultado da votação é o primeiro teste de sobrevivência política do
PT depois do impeachment de Dilma Rousseff, há um mês, e da denúncia do
Ministério Público que levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
ao banco dos réus, alvejado pela Lava Jato. Se Haddad não chegar nem
mesmo ao segundo turno, a previsão no PT é a de que o racha interno
aumentará, com nova debandada antes de 2018, quando haverá outra eleição
presidencial.
Desde 1992, o PT nunca ficou fora da segunda etapa da corrida pela
Prefeitura de São Paulo. Nesta campanha, porém, Haddad enfrenta um
cenário extremamente adverso e muitas dificuldades para vencer a prova
de fogo. A situação é tão dramática que, nos bastidores, dirigentes do
partido dizem que a simples passagem do prefeito para o segundo turno já
será considerada uma vitória, mesmo se ele perder depois.
A agonia em São Paulo é o caso mais emblemático do declínio do PT. Está
longe, no entanto, de ser o único. O partido lançou 989 candidatos às
prefeituras, uma redução de quase 44% se comparada aos 1.759 que
concorreram há quatro anos. Atualmente, no entanto, das três capitais
que administra (São Paulo, Goiânia e Rio Branco), deve reeleger no
primeiro turno apenas o prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre, que
lidera com folga as pesquisas de intenção de voto. Trata-se, porém, de
uma cidade sem expressão nacional.
“O problema desta campanha é que ela é comandada pelo Sérgio Moro”,
provocou o secretário de Formação Política do PT, Carlos Henrique Árabe,
numa referência ao juiz que comanda os processos da Lava Jato em
primeira instância. “O PT tem de se recriar, se refundar, se reinventar.
Base social para isso tem, mas a burocracia partidária terá de repensar
o seu papel.”
Mesmo em São Bernardo do Campo, berço político de Lula, o PT está em
apuros. No ABC paulista, as sondagens mostram que o partido não é
favorito em nenhuma das sete cidades, embora indiquem segundo turno em
Santo André e em Mauá, cidades que já governa.
“O cenário melhorou nos últimos dez dias. Nossa expectativa é manter o
que temos e recuperar todos os prefeitos que deixaram o partido”,
afirmou o presidente do PT paulista, Emídio de Souza. Somente no Estado
de São Paulo, 36 dos 73 eleitos pela legenda migraram para outras
siglas. Apesar das declarações de Emídio, relatório do Diretório
Nacional indica que o PT elegerá de 10 a 20 prefeitos no Estado.
Na mira da Lava Jato, Lula não teve protagonismo nesta campanha. Não
apareceu nem mesmo no programa de TV de Haddad, que resistiu muito a
adotar o discurso do “golpe” para carimbar os concorrentes de partidos
que apoiaram o impeachment de Dilma, como João Doria (PSDB) e Marta
Suplicy (PMDB). O ex-presidente chegou a gravar uma mensagem de apoio a
Haddad, que não foi ao ar porque sua equipe concluiu que a presença dele
aumentava a rejeição do prefeito.
Fardo. Nesta batalha, não foram poucos os candidatos que esconderam a
estrela do PT, a sigla e a cor vermelha. A portas fechadas, diagnósticos
reservados mostraram que esses símbolos se tornaram um fardo pesado
demais, principalmente em São Paulo. Em capitais como Recife e Porto
Alegre, porém, pesquisas apontam que o PT pode passar para o segundo
round da briga com nomes que já administraram as cidades. É o caso de
João Paulo Lima e Silva, na capital de Pernambuco, e Raul Pont, na do
Rio Grande do Sul.
Mesmo assim, o quadro eleitoral escancarou um isolamento inédito do PT. O
partido que até alguns anos atrás se dava ao luxo de dispensar aliados
agora também é dispensado. Nada menos do que 220 candidatos petistas
disputarão as eleições sozinhos, como Márcio Pochmann, em Campinas, onde
até parceiros tradicionais, como o PC do B, fizeram dobradinha com
adversários.
No Rio, o PSOL de Marcelo Freixo se recusou a receber o PT na coligação.
A saída foi incentivar a candidatura de Jandira Feghali (PC do B). Em
João Pessoa, onde o prefeito Luciano Cartaxo trocou o PT pelo PSD, os
petistas decidiram lançar Professor Charliton para não sofrerem a
humilhação de ficar fora da disputa depois que o governador da Paraíba,
Ricardo Coutinho (PSB), os barrou na aliança de apoio à sua candidata.
Para Lula e algumas correntes do PT, a unificação da esquerda pode ser
uma alternativa em outras campanhas, como a de 2018. Diante do avanço da
Lava Jato e com a perspectiva de o ex-presidente ficar inelegível, o PT
não tem um plano B para substituí-lo. “É preciso costurar um novo
conceito de frente e de coalizão para o próximo período”, disse o
ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro.
extraídaderota2014blogspot
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