Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O fim do Picolé de Chuchu -

 VERA MAGALHÃES ESTADÃO

Alckmin arrasta sozinho as fichas da vitória de Doria, que ele tirou do bolso do colete

A crônica política terá de encontrar um novo apelido para o governador Geraldo Alckmin. A era Picolé de Chuchu chegou oficialmente ao fim.

Não se sabe se a vitória surpreendente e acachapante colhida pelo tucano ontem, não só na capital, mas em todo o Estado, se traduzirá automaticamente em favoritismo na disputa interna para definir quem será o candidato do PSDB à Presidência da República em 2018. Isso dependerá de diversos e em grande medida imponderáveis fatores.

Mas é certo que a caricatura que se fazia de Alckmin até aqui, de um político insosso, algo caipira, menos “de raiz” que outros expoentes do PSDB de São Paulo, não é mais compatível com a realidade do partido e do Estado que emergiu das urnas ontem.

Alckmin tirou João Doria Jr. literalmente do bolso do colete. Não faltaram vozes no interior da sigla a profetizar que ele ficara maluco, que estaria agindo “com o fígado”, disposto apenas a tratorar internamente aliados de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, que estaria “jogando fora” a vitória que o partido colheu em 2014 com um político desconhecido e difícil de emplacar na periferia, um “coxinha”.

Nunca tantas teses caíram por terra de uma vez só. Doria venceu em praticamente todas as regiões da cidade, com base num marketing que enfatizava justamente o fato de não ser político. Numa eleição em que Fernando Haddad escondeu Lula na TV e Marta Suplicy parecia nem ser do mesmo partido do presidente Michel Temer, Doria levou o padrinho à TV e à rua, defendeu Alckmin nos debates e prometeu aliança com o governo do Estado.

Já na reta final, quando o coxinha já era mais visto na cidade como o “João trabalhador” do jingle de campanha, os tucanos históricos que antes lhe torciam o nariz tentaram surfar a onda alckmista. FHC gravou uma mensagem protocolar, genérica, mas outros, como o presidente nacional do partido, Aécio Neves, foram mais efusivos.

Tudo em vão. Essa é uma rodada da roleta em que não há como Alckmin não arrastar todas as fichas sozinho. Nem aliados próximos, como o ex-secretário da Casa Civil Edson Aparecido, concordaram com a escolha de Doria. Alckmin insistiu. E venceu.

Mostrou, assim, uma característica bem diferente do aguado chuchu: deixou claro que quem manda no PSDB em São Paulo é ele, que não há outro cacique a dar as cartas no Estado. Isolou José Serra. O ministro de Relações Exteriores se manteve distante do palanque de Doria até o final.

Não foi só na capital que Alckmin venceu: o PSDB elegeu prefeitos ou estará no segundo turno em muitas das principais cidades do Estado, da região metropolitana ao interior. A onda azul praticamente varreu o PT do mapa no Estado de Lula, algo que aconteceu também no plano nacional.

E agora? Alckmin é favorito para a sucessão presidencial em 2018?

Muita calma nessa hora. Fazer um prognóstico dois anos antes é sempre arriscado. Na estrutura nacional do PSDB, o senador Aécio Neves ainda tem mais apoios. O mineiro também colocou um aliado, João Leite, no segundo turno em Belo Horizonte, e o PSDB se recuperou no Estado, onde Aécio perdera para Dilma Rousseff em 2014.

A nova correlação de forças internas que emergirá das eleições municipais ainda levará algum tempo para ser conhecida. A Lava Jato também v ai desempenhar um papel de desempate na disputa interna: quem escapar incólume do mar de lama que será derramado com delações como as da Odebrecht e da OAS será favorito na corrida.

Alckmin dependerá, ainda, de um bom governo de seu afilhado. Não foram poucos os prefeitos de São Paulo tirados da cartola de padrinhos que fracassaram -- de Celso Pitta/Maluf a Fernando Haddad/Lula.

Nada disso, no entanto, tira de Alckmin o título de grande vencedor das eleições nem afasta a necessidade de um novo apelido para o governador. Está lançado o desafio.


















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