EDITORIAL ESTADÃO
Quatro meses após a posse de Michel Temer na Presidência da República – e
praticamente um mês após sua posse em caráter definitivo –, tornou-se
obscura a posição de seu governo sobre a urgência da modernização das
leis do trabalho. Trata-se de iniciativa indispensável para facilitar a
contratação de trabalhadores, mas nem todos os integrantes do governo
Temer parecem ter-se dado conta disso.
Anunciada como uma das
prioridades do novo governo e reclamada por empregadores em geral,
especialistas em relações trabalhistas e até pela parcela do movimento
sindical que se preocupa com as mudanças no mundo do trabalho, a reforma
da legislação sobre o tema é, como as medidas de ajuste fiscal e a
proposta de reforma da Previdência Social, essencial para restabelecer a
confiança dos investidores. Sem essas providências não se colocará a
economia na rota do crescimento. No entanto, ao participar, há dias, do
Fórum Estadão Brasil Competitivo, que teve como tema a Modernização das
Relações de Trabalho, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, disse
que o governo decidiu adiar o debate sobre o tema para o segundo
semestre de 2017. “A questão é complexa, precisa ter ampla participação
de todos os setores”, disse o ministro, na explicação que deu para o
adiamento.
Não se nega que o tema é, de fato, complexo e envolve
interesses diversos. Dificilmente terá êxito uma proposta de reforma que
não tenha sido debatida amplamente por representantes do governo,
parlamentares, profissionais da área do direito trabalhista,
empregadores, sindicalistas e outros envolvidos na questão. Mas isso não
serve de argumento para adiar a discussão desde já. A reforma, afinal, é
uma urgente imposição da crise por que passa o País e, sobretudo, das
muitas regras em vigor que são um obstáculo para a contratação de
trabalhadores, tornando-se, por isso, fatores do desemprego que atinge
mais de 11 milhões de pessoas.
Por causa dessas regras, a Justiça
do Trabalho é diariamente inundada por milhares de processos. Só no ano
passado, como mostrou o Estado, o Tribunal Superior do Trabalho (TST), a
mais alta instância de julgamento de questões trabalhistas, recebeu 291
mil novas ações e julgou 305 mil. Entre 2011 e 2015, o TST recebeu 1,35
milhão de ações, quase 50% mais do que as recebidas nos cinco anos
anteriores.
Ao participar do Fórum Estadão, o presidente do TST,
ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, defendeu a urgência da
reforma trabalhista, não apenas por causa do número absurdo de processos
que chegam para a análise da Corte, mas porque, segundo ele, a economia
pode não suportar a espera. A rigidez da legislação trabalhista e as
interpretações que se fazem sobre ela geram desemprego, disse o
ministro.
Quando não desempregam, as imperfeições da legislação
básica – criada durante a ditadura do Estado Novo, na Era Vargas –
empurram trabalhador e empregador para relações informais, ruins para
ambos os lados e para o setor público. Para o empregado, a informalidade
significa falta de garantias e salário em geral mais baixo do que o do
mercado formal; para a empresa, é uma relação que impede ou desestimula a
melhoria do rendimento do trabalho; para o governo, representa perda de
receitas, inclusive as da Previdência Social.
O notável avanço
tecnológico dos últimos anos trouxe novas necessidades para o mercado de
trabalho e vem forjando novas formas de relacionamento entre empresas e
seus colaboradores. As mudanças que ocorrem em escala global exigem,
entre outras mudanças nas relações de trabalho, flexibilização das
formas de contratação, estabelecimento de regras claras para a
terceirização da mão de obra e regulamentação de novas modalidades de
trabalho e de jornadas diferenciadas adaptadas às diferentes
necessidades da economia.
Essas novas exigências se somam à
rigidez, à obsolescência e à disfuncionalidade de muitas normas ainda
presentes na legislação trabalhista brasileira para demonstrar a
urgência de sua reforma. A crise potencializa essa urgência.
extraídadeavarandablogspot
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