Por Zuenir Ventura - O Globo
“Foi um barata voa”, informou o colunista. Em seguida, com autorização do Supremo Tribunal Federal, policiais vasculharam as residências de três senadores, entre eles Fernando Collor, acusado de ter recebido recursos ilícitos do doleiro Alberto Youssef.
O que se passou nesse dia trouxe indesejáveis lembranças, parecendo versões atualizadas de episódios de mais de duas décadas atrás. E não só pelo protagonista como pelo cenário, a famosa Casa da Dinda, de triste memória. Ali, há 23 anos, entrou um incriminador Fiat Elba e dali saíram esta semana três surpreendentes carrões de luxo importados, calculados em quase R$ 6 milhões.
Indignado, dizendo-se humilhado, ele ocupou a tribuna do Senado, o mesmo recinto em que um dia foi julgado e condenado por 76 votos a 3. Desta vez, recebeu a solidariedade do presidente Renan Calheiros, também sob investigação e que em nota lida no plenário e aprovada pela Mesa Diretora classificou o ato de “invasão” e os métodos, de “violência contra as garantias constitucionais”. Por isso, ele recebeu a solidariedade do ex-presidente Lula, que por sua vez acaba de saber que o Ministério Público decidiu avançar nas investigações para descobrir se ele fez tráfico de influência internacional em benefício da Odebrecht.
A semana não terminou aí. Outra bomba iria estourar, a que levou ao noticiário de polícia o temido presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. O delator da Lava-Jato Júlio Camargo disse ter-lhe pago propina de nada menos que US$ 5 milhões. Ele desmentiu com veemência a acusação e se declarou perseguido pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que teria “obrigado Camargo a mentir”.
Para desqualificar as operações de investigação da polícia e do Ministério Público, Collor e Ciro Nogueira, outro alvo das buscas, protestaram, considerando-se também perseguidos e alegando que o Brasil está vivendo um “Estado policial”. Parece mesmo, o que deixa Brasília apreensiva. Só que, se isso está acontecendo, a culpa não é da polícia, mas dos que precisam dela, isto é, os que se colocam fora da lei, inclusive os de colarinho branco. Como na música dos Titãs, “polícia pra quem precisa de polícia”.
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