Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Para quem precisa

Por Zuenir Ventura - O Globo

 Se o Brasil vive um Estado-policial, não é culpa da polícia, mas dos que precisam dela, isto é, os que se colocam fora da lei, inclusive os de colarinho brancoFoi uma semana tensa, com a política dando muito trabalho à polícia em Brasília. Já na madrugada de segunda-feira, registrou-se uma grande corrida aos telefones. Segundo Ilimar Franco, senadores de vários partidos foram despertados por seus chefes de gabinete avisando que se encontrava em curso uma operação da PF de busca e apreensão em residências de parlamentares.
“Foi um barata voa”, informou o colunista. Em seguida, com autorização do Supremo Tribunal Federal, policiais vasculharam as residências de três senadores, entre eles Fernando Collor, acusado de ter recebido recursos ilícitos do doleiro Alberto Youssef.
O que se passou nesse dia trouxe indesejáveis lembranças, parecendo versões atualizadas de episódios de mais de duas décadas atrás. E não só pelo protagonista como pelo cenário, a famosa Casa da Dinda, de triste memória. Ali, há 23 anos, entrou um incriminador Fiat Elba e dali saíram esta semana três surpreendentes carrões de luxo importados, calculados em quase R$ 6 milhões.

Indignado, dizendo-se humilhado, ele ocupou a tribuna do Senado, o mesmo recinto em que um dia foi julgado e condenado por 76 votos a 3. Desta vez, recebeu a solidariedade do presidente Renan Calheiros, também sob investigação e que em nota lida no plenário e aprovada pela Mesa Diretora classificou o ato de “invasão” e os métodos, de “violência contra as garantias constitucionais”. Por isso, ele recebeu a solidariedade do ex-presidente Lula, que por sua vez acaba de saber que o Ministério Público decidiu avançar nas investigações para descobrir se ele fez tráfico de influência internacional em benefício da Odebrecht.
A semana não terminou aí. Outra bomba iria estourar, a que levou ao noticiário de polícia o temido presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. O delator da Lava-Jato Júlio Camargo disse ter-lhe pago propina de nada menos que US$ 5 milhões. Ele desmentiu com veemência a acusação e se declarou perseguido pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que teria “obrigado Camargo a mentir”.
Para desqualificar as operações de investigação da polícia e do Ministério Público, Collor e Ciro Nogueira, outro alvo das buscas, protestaram, considerando-se também perseguidos e alegando que o Brasil está vivendo um “Estado policial”. Parece mesmo, o que deixa Brasília apreensiva. Só que, se isso está acontecendo, a culpa não é da polícia, mas dos que precisam dela, isto é, os que se colocam fora da lei, inclusive os de colarinho branco. Como na música dos Titãs, “polícia pra quem precisa de polícia”.





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